Desde o fim do bakufu, muita coisa mudou no Japão, outras, menos. A desigualdade de gênero no Japão, por exemplo, persiste e mulheres recebem em média 74% pelo mesmo trabalho realizado por seus colegas do sexo masculino.
Apesar do grande desenvolvimento econômico do Japão no pós guerra, a inserção da mulher no mercado de trabalho sempre foi vista com ressalvas, e, em geral, ocupando cargos ou posições secundárias sem grandes responsabilidades dentro de uma empresa.

Houveram avanços, é preciso reconhecer, mas tímidos e longe de serem satisfatórios para a segunda década do século XXI na terceira maior economia do mundo. O maior esforço recente por parte do estado japonês ficou conhecido como Abe Womenomics Policy.
A ideia Abe Womenomics Policy de impulsionar as mulheres para o mercado de trabalho realmente funcionou.
Estima-se que em 2018, cerca de 70% das mulheres japonesas estavam empregadas. Contudo, 54% delas eram temporárias.
Quase 50% da força de trabalho, quase 30% a menos
As mulheres são parte inseparável da atividade produtiva remunerada de qualquer sociedade, incluindo a japonesa. Dados de 2018 apontavam que a força de trabalho do Japão era de 67,4 milhões de profissionais.

Destes, 44,5% são mulheres, ou seja, 29,9 milhões de profissionais. No entanto, 54% delas são empregadas de contratos temporários. Isso significa que 16.1 milhão de mulheres não tem estabilidade financeira e profissional.
Se comparado com a força de trabalho masculina no mercado de trabalho, são cerca de 22% os homens que trabalham em contratos temporários.
Portanto, a desigualdade de gênero no Japão é um fato demonstrável nos dados da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) e do Ministério da Saúde, Trabalho e Bem-Estar.
Diferença no bolso
Outros dados demonstram a presença da violência, e não física propriamente dita, mas a que coage e força uma situação de forma mais ‘sutil’.
Uma estimativa de ganho mensal de trabalhadores do Japão em 2020 revelou que as mulheres receberam em média JP¥ 251.800,00 (US$ 2.177,00), já seus colegas do sexo masculino receberam em média JP¥ 338.800,00 (US$ 2.929,18).

Em um cálculo realizado pela iniciativa Japan’s Equal Pay Day em 2018 revelou que para uma mulher receber o mesmo que um colega do sexo masculino, cumprindo a mesma função e carga horária, precisará trabalhar 112 dias a mais. Na Noruega são 17 dias.
A desigualdade de gênero no Japão é de tal ordem que a Global Gender Gap 2021 realizada pelo Fórum Econômico Mundial constatou que o país ocupa a 120ª posição entre 156 nações pesquisadas pela organização.
Sabotagens e violência velada
A desigualdade de gênero no Japão já mostrou suas faces no país com o escândalo das manipulações dos resultados do vestibular de medicina. Mulheres tinham seus resultados alterados para ficarem com classificações mais baixas.
O caso foi revelado em 2018 e 2020 onde mais de 10 universidades foram acusadas de tais práticas, entre elas, a Tokyo Medical University.

Consequência prática
Com as dificuldades impostas para as mulheres japonesas fazem com que o país tenha o pior índice de mulheres médicas entre os países da OCDE, por exemplo. Apenas 21% dos médicos do Japão são do sexo feminino.
Kazuo Yamaguchi, sociólogo radicado no EUA, professor da Chicago University e especialista em desigualdade de gênero no Japão lembra: “Não há poucas mulheres apenas em posição de poder, também há poucas profissionais especializadas como advogadas e médicas”.

Não obstante, as profissões de educadoras de jardim de infância, nutricionistas e outras atividades produtivas tradicionalmente ocupado por mulheres normalmente recebem anualmente menos candidaturas que a média nacional.
Na pandemia de COVID-19 no Japão, as mulheres (e estrangeiras) foram as primeiras a serem demitidos.
Embora esse grupo tenha sido o que mais sofreu com as consequências da pandemia, independente da faixa etária, foi particularmente mais cruel com as mais jovens.
Clique em O aumento do abuso sexual de jovens garotas no Japão em meio as restrições da pandemia de COVID-19 e confira nosso artigo.
Sociedade patriarcal
Dentro das representações políticas, a presença feminina é irrisória em comparação aos homens dos parlamentos e assembleias públicas. Essa estrutura patriarcal da sociedade japonesa transpassa a tudo e todos.
Uma pesquisa realizada pela NIppon Foudation entrevistou 10 mil mulheres entre 18 e 69 anos. Os questionamentos eram em relação a presença feminina na política.

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Embora 62,2% das entrevistadas acreditassem que proporção de mulheres na política era baixa e que precisava melhorar, 31,6% respondeu que que a questão do gênero na política não era algo relevante e 34% que a política é feita para os homens.
34,5% achava um desafio mulheres terem que equilibrar vida doméstica a pública.

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