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Desigualdade de gênero no Japão: mulheres recebem 26% menos

Disparidade entre salários, cargos exercidos, estabilidade econômica e profissional entre homens e mulheres no Japão segue entre os piores do mundo

Desde o fim do bakufu, muita coisa mudou no Japão, outras, menos. A desigualdade de gênero no Japão, por exemplo, persiste e mulheres recebem em média 74% pelo mesmo trabalho realizado por seus colegas do sexo masculino.

Apesar do grande desenvolvimento econômico do Japão no pós guerra, a inserção da mulher no mercado de trabalho sempre foi vista com ressalvas, e, em geral, ocupando cargos ou posições secundárias sem grandes responsabilidades dentro de uma empresa.

As mulheres no Japão, em geral, recebem 26% a menos que seus colegas do sexo masculino que cumprem a mesma função e jornada de trabalho
As mulheres no Japão, em geral, recebem 26% a menos que seus colegas do sexo masculino que cumprem a mesma função e jornada de trabalho

Houveram avanços, é preciso reconhecer, mas tímidos e longe de serem satisfatórios para a segunda década do século XXI na terceira maior economia do mundo. O maior esforço recente por parte do estado japonês ficou conhecido como Abe Womenomics Policy.

A ideia Abe Womenomics Policy de impulsionar as mulheres para o mercado de trabalho realmente funcionou.

Estima-se que em 2018, cerca de 70% das mulheres japonesas estavam empregadas. Contudo, 54% delas eram temporárias.

Quase 50% da força de trabalho, quase 30% a menos

As mulheres são parte inseparável da atividade produtiva remunerada de qualquer sociedade, incluindo a japonesa. Dados de 2018 apontavam que a força de trabalho do Japão era de 67,4 milhões de profissionais.

Da força de trabalho no Japão, 54% encontram-se em contratos temporários, portanto, sem estabilidade econômica e profissional
Da força de trabalho no Japão, 54% encontram-se em contratos temporários, portanto, sem estabilidade econômica e profissional

Destes, 44,5% são mulheres, ou seja, 29,9 milhões de profissionais. No entanto, 54% delas são empregadas de contratos temporários. Isso significa que 16.1 milhão de mulheres não tem estabilidade financeira e profissional.

Se comparado com a força de trabalho masculina no mercado de trabalho, são cerca de 22% os homens que trabalham em contratos temporários.

Portanto, a desigualdade de gênero no Japão é um fato demonstrável nos dados da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) e do Ministério da Saúde, Trabalho e Bem-Estar.

Diferença no bolso

Outros dados demonstram a presença da violência, e não física propriamente dita, mas a que coage e força uma situação de forma mais ‘sutil’.

Uma estimativa de ganho mensal de trabalhadores do Japão em 2020 revelou que as mulheres receberam em média JP¥ 251.800,00 (US$ 2.177,00), já seus colegas do sexo masculino receberam em média JP¥ 338.800,00 (US$ 2.929,18).

Cartoon da OCDE ilustra de forma lúdica a diferença que dada aos diferentes gêneros no mercado de trabalho
Cartoon da OCDE ilustra de forma lúdica a diferença que dada aos diferentes gêneros no mercado de trabalho

Em um cálculo realizado pela iniciativa Japan’s Equal Pay Day em 2018 revelou que para uma mulher receber o mesmo que um colega do sexo masculino, cumprindo a mesma função e carga horária, precisará trabalhar 112 dias a mais. Na Noruega são 17 dias.

A desigualdade de gênero no Japão é de tal ordem que a Global Gender Gap 2021 realizada pelo Fórum Econômico Mundial constatou que o país ocupa a 120ª posição entre 156 nações pesquisadas pela organização.

Sabotagens e violência velada

A desigualdade de gênero no Japão já mostrou suas faces no país com o escândalo das manipulações dos resultados do vestibular de medicina. Mulheres tinham seus resultados alterados para ficarem com classificações mais baixas.

O caso foi revelado em 2018 e 2020 onde mais de 10 universidades foram acusadas de tais práticas, entre elas, a Tokyo Medical University.

Mulheres protestam em frente a Tokyo Medical University após escândalo de sabotagem no resultado das provas femininas em prol de candidatos masculinos ser revelado
Mulheres protestam em frente a Tokyo Medical University após escândalo de sabotagem no resultado das provas femininas em prol de candidatos masculinos ser revelado

Consequência prática

Com as dificuldades impostas para as mulheres japonesas fazem com que o país tenha o pior índice de mulheres médicas entre os países da OCDE, por exemplo. Apenas 21% dos médicos do Japão são do sexo feminino.

Kazuo Yamaguchi, sociólogo radicado no EUA, professor da Chicago University e especialista em desigualdade de gênero no Japão lembra: “Não há poucas mulheres apenas em posição de poder, também há poucas profissionais especializadas como advogadas e médicas”.

Kazuo Yamaguchi, sociólogo japonês especialista em igualdade de gênero relembra a baixa presença feminina em trabalhos de mão de obra qualificada. Foto por Issei Kato, Reuters
Kazuo Yamaguchi, sociólogo japonês especialista em igualdade de gênero relembra a baixa presença feminina em trabalhos de mão de obra qualificada. Foto por Issei Kato, Reuters

Não obstante, as profissões de educadoras de jardim de infância, nutricionistas e outras atividades produtivas tradicionalmente ocupado por mulheres normalmente recebem anualmente menos candidaturas que a média nacional.

Na pandemia de COVID-19 no Japão, as mulheres (e estrangeiras) foram as primeiras a serem demitidos.

Embora esse grupo tenha sido o que mais sofreu com as consequências da pandemia, independente da faixa etária, foi particularmente mais cruel com as mais jovens.

Clique em O aumento do abuso sexual de jovens garotas no Japão em meio as restrições da pandemia de COVID-19 e confira nosso artigo.

Sociedade patriarcal

Dentro das representações políticas, a presença feminina é irrisória em comparação aos homens dos parlamentos e assembleias públicas. Essa estrutura patriarcal da sociedade japonesa transpassa a tudo e todos.

Uma pesquisa realizada pela NIppon Foudation entrevistou 10 mil mulheres entre 18 e 69 anos. Os questionamentos eram em relação a presença feminina na política.

Em seu melhor ano, 2014, dos 19 ministério do Japão, 5 foram ocupados por mulheres. Em 2018 esse número caiu para 1 ministério comandado por uma mulher
Em seu melhor ano, 2014, dos 19 ministério do Japão, 5 foram ocupados por mulheres. Em 2018 esse número caiu para 1 ministério comandado por uma mulher

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Embora 62,2% das entrevistadas acreditassem que proporção de mulheres na política era baixa e que precisava melhorar, 31,6% respondeu que que a questão do gênero na política não era algo relevante e 34% que a política é feita para os homens.

34,5% achava um desafio mulheres terem que equilibrar vida doméstica a pública.

Mulheres ocupam apenas 10% das cadeiras na Câmara dos Conselheiros (Câmara Alta) e 20% das cadeiras na Câmara dos Representantes (Câmara Baixa) da Dieta nacional
Mulheres ocupam apenas 10% das cadeiras na Câmara dos Conselheiros (Câmara Alta) e 20% das cadeiras na Câmara dos Representantes (Câmara Baixa) da Dieta nacional

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