Papel da pressão social no controle a pandemia de coronavírus no Japão

Como o Japão conseguiu lidar com a pandemia usando pressão social

Descubra como o Japão usou a pressão social, vergonha pública e o senso coletivo para ter a colaboração das pessoas sem legislação

O Japão foi um dos países mais bem-sucedidos em lidar com a pandemia de coronavírus com baixas taxas de infecções e uma das mais altas taxas de vacinação em comparação com os países desenvolvidos.

Por isso, o jornal The New York Times fez uma análise sobre o bom desempenho e os motivos para isso acontecer.

Se no começo da pandemia, o país foi criticado pela lentidão de imunização, rapidamente com a abertura de centros de vacinação este cenário mudou, além da colaboração de empresas e universidades terem feito sua parte.

Centro de vacinação no Japão

Espírito colaborativo aliado a pressão social no Japão

Mas, não é apenas este aspecto que contribuiu para as baixas taxas de infecções, segundo o jornal americano, mas o espírito colaborativo aliado a pressão exercida pelas pessoas dentro da sociedade japonesa.

Mika Yanagihara, 33 anos, saiu para comprar flores na central de Tokyo e mesmo andando do lado de fora a altas temperaturas, ela saiu com a máscara, mas com apenas a metade do rosto coberta.

Pessoas encarando

Ela contou que mesmo assim as pessoas ficaram encarando. Esta pressão a fez decidir em não sair totalmente sem máscara de casa, mesmo com o governo recomendando que as pessoas evitem o acessório em dias muito quentes para evitar insolação.

Segundo o jornal, o Japão tem uma das menores taxas de mortalidade entre os países desenvolvidos, sendo a terceira economia mundial e 11ª maior população mundial.

Além disso, apresenta uma das maiores taxas de vacinação e menores de infecção.

Sem legislação para obrigar pessoas

Formalmente, o governo nunca fez recomendações obrigatórias sobre vacinação ou uso de máscara, nem mesmo fez lockdowns ou vigilância em massa.

O papel da pressão social

No lugar disso, a pressão social fez seu trabalho. Uma pesquisa do governo japonês de maio de 2022 apontou que 80% das pessoas que trabalhavam em escritórios ou estavam envolvidas em atividades escolares usavam máscara e 90% ainda o faziam no transporte público.

Além disso, estabelecimentos como cinemas, teatro, estádios e shoppings centers ainda pedem que as pessoas usem máscara e todo mundo cumpre.

Inclusive, o termo calças de rosto (face pants) é bem popular, com pessoas se sentindo desconfortáveis ao sair sem máscara e seria como se saíssem sem peças de baixo em público.

Lembrando que a cultura de uso de máscaras já estava presente na sociedade, mas não desta forma.

Além destes fatores, outras coisas que contribuíram se referem a qualidade do sistema de saúde público e medidas na fronteira bem rígidas.

Mas, nada comparado a pressão social e vergonha social acabam deixando as pessoas mais colaborativas com as medidas de prevenção à Covid-19.

Ao contrário de outros países, o Japão não possui uma lei que obrigue as pessoas a se vacinarem ou a usar máscara, nem mesmo fazer lockdowns.

No entanto, a maioria da população seguiu as recomendações de especialistas, de se proteger, evitar lugares lotados e sem circulação de ar apropriada.

Uma vez que o Japão avançou na vacinação, a maioria se dirigiu até os centros para tomar seu imunizante.

Quase 90% dos idosos com mais de 65 anos, a população mais vulnerável, recebeu doses, comparado com os 60% dos idosos americanos.

Comportamento obediente

Segundo o professor de saúde pública na St.Luke’s International University em Tokyo, Kazunari Onishi, se indicar para os japoneses olharem para a direita, eles olharão para a direita.

Ele ainda conta que geralmente acha este tipo de comportamento negativo, com pessoas sendo influenciadas pelos atos alheios e não pensando por si. No entanto, na pandemia isso se tornou algo positivo.

Consciência e fiscalização

As pessoas se tornaram bem pragmáticas com pessoas fiscalizando umas às outras e sendo conscientes de seu papel.

Esta prática de pressão social é algo já disseminado nas escolas com as crianças seguindo as regras para se encaixaram dentro dos grupos.

Senso coletivo

Os japoneses já desenvolvem o senso de que é melhor estar em grupos, do que se sentir isolados e agindo em prol do senso coletivo.

Responsabilidade

Além disso, existe desenvolvimento de senso de responsabilidade, com os alunos sendo responsáveis por fazer a limpeza das escolas e servir a merenda.

Eles também são muito preocupados com a ética pública que pode ser transformada em uma ação que vise o bem-estar público.

Na época que o Imperador Hirohito estava perto de falecer em 1988, cantores pop cancelaram festas de casamentos e escolas cancelaram festivais.

Após o desastre de Fukushima em 2011 levar a uma série crise energética, as pessoas começaram a racionar energia por conta própria.

Segundo o antropologista Alan Turing do Instituto de Londres que estudou a resposta japonesa a pandemia de coronavírus, os políticos usaram o discurso de restrições em prol do coletivo.

Quando a pandemia estourou em 2020 vindo da China, o Japão foi um dos primeiros países a registrarem casos em pequenos grupos, além dos casos no cruzeiro Diamond Princess.

Logo, foi confirmado que o vírus se espalhava pelo ar e a melhor forma de reduzir o contágio era evitar espaços sem ventilação adequada ou em contato próximo com outros.

Era esperado que as pessoas colaborassem em ficar em casa, mesmo sem legislação que as obrigasse a tal.

Foi isso que as pessoas fizeram com grande contribuição de todos, desde estabelecimentos comerciais a empresas.

Empresas que nunca tinham deixado seus funcionários trabalhassem de forma remota, o permitiram e ainda mandaram equipamentos.

Famílias cancelaram visitas a parentes idosos e as pessoas evitaram sair de casa. Enquanto isso, grupos da indústria de entretenimento adotaram medidas com protocolos para evitar infecções.

Vergonha pública como ferramenta

As pessoas que não seguiam com este comportamento, eram colocadas sob a mira da vergonha pública de forma rápida.

Quando um clube de jogos shogi e go em Osaka não fechou quando existia a recomendação que estabelecimentos comerciais fechassem, logo redes de televisão passaram a filmar o local e expor o negócio.

Seu dono Toshio Date, 58, entendeu logo o recado e rapidamente fechou. Mesmo após as infecções terem diminuído em Osaka e os negócios foram reabrindo, ele contou a reportagem que continuou recebendo repreensão por aceitar receber muitas pessoas por vez.

Para contornar o prejuízo, o governo japonês passou a oferecer subsídios econômicos para estes estabelecimentos.

Em 2020, foram pagos mais de US$ 40.5 bilhões para mais de 4.2 milhões de pequenos e médios empreendimentos, de acordo com dados do Ministério da Economia, Comércio e Indústria.

As grandes empresas ganharam fundos corporativos baseados em seu lucro pré-pandemia.

No primeiro verão da pandemia, pequenos pontos de infecções começaram a aparecer na vida noturna da central de Tokyo.

Quando os negócios destes locais começaram a falhar nas medidas de ventilação, máscaras e sanitização com álcool em gel, oficiais foram mandados para conscientizar os donos.

Apenas como último recurso, foram aplicados medidas de multas ou corte dos subsídios. De acordo com os dados dos escritórios das prefeituras de assuntos econômicos e de trabalho, 96% a 98% dos negócios concordaram com as regras sugeridas.

Atualmente, as pessoas continuam agindo sob a pressão social.

Fonte: The New York Times.

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