Uma pesquisa realizada pelas organizações Women Shift com sede em Tokyo e a Polilion que é sediada em Gifu, revelou o assédio sexual que muitas mulheres sofrem na política no Japão.
Foram entrevistadas 200 figuras políticas (100 homens, 98 mulheres e 2 pessoas não binárias) para o levantamento dos dados entres os meses de agosto a outubro de 2021. O resultado foi publicado em fevereiro.

A Women Shift é uma rede de mulheres que atuam ou já atuaram dentro da política nacional. A Polilion é uma organização que realiza treinamentos contra o assédio sexual nas assembleias do Japão.
O documento produzido em parceria com as duas organizações intitulado como Politician Harassment White Paper é uma versão do movimento global MeToo e joga luz na realidade do assédio sexual no ambiente político japonês.
Relatos de sexismo e assédio sexual
O Politician Harassment White Paper colheu depoimentos de situações vividas por mulheres dentro da política japonesa. “Me ameaçaram, disseram que não votariam em mim se eu não os beijasse”, disse uma entrevistada.
“Me disseram que mulheres jovens ganham eleição mesmo sem serem qualificadas para o cargo”, contou outra política. Uma parlamentar recebeu a proposta de um colega para que vendesse sua meia calça a ele.

Relatos de mulheres sendo apalpadas por eleitores em meio ao tumulto dos comícios eleitorais, ser avaliada por colegas de partido pelo tamanho dos seios e depois receber propostas de relações sexuais também estão presentes no documento.
Uma parlamentar lembra de uma ocasião em que um eleitor disse sem quaisquer rodeios que a foto dela no cartaz da campanha tinha muito photoshop, outra mulher pública ouviu de um colega que mulheres políticas deveriam se manter caladas.
Baixa representação política
Apesar do grande desenvolvimento econômico, o Japão deixa e muito a desejar quando o assunto é igualdade de gênero. O país ocupou a 120ª posição entre 156 nações pesquisados no levantamento de 2021 da Global Gender Gap.
Dentro do parlamento (Dieta) e assembleias, as mulheres representam 14% e 15% dos assentos. Elas também representam cerca de 21% dos profissionais mais remunerados e aproximadamente 10% dos cargos de gerência ou executivos.

Não obstante, entre as poucas mulheres que ingressam na política do país, as que vão exercer seu primeiro mandato, são as que mais sofrem por não saberem a quem recorrer e acreditam que é preciso tolerar e/ou relevar os assédios psicológicos e sexuais de seus colegas.
O documento produzido pela Women Shift em parceria com a Polilion mostrou 100 homens entrevistados. Deles, apenas 3 afirmaram que o assédio sexual era o mais sofrido.
Já das 98 mulheres, para 27 o assédio sexual por colegas é o mais recorrente.
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Estagnação na equidade de gênero
Em 2021, o Japão avançou apenas uma posição no Global Gender Gap em relação à 2020, saindo da 121ª posição para a 120ª, ou seja, é como se o país estivesse estagnado na redução da desigualdade de gênero.
E, por se tratar de uma estrutura social milenar pautada no modelo patriarcal, a ideia de que a carreira política é feita para homens atravessa 34% das mulheres japonesas, e que questão de gênero na política não é relevante está presente em 31,6%.

O empoderamento feminino no Japão vem em ascensão e é visto com bons olhos pela sociedade, contudo, as mudanças na vida prática das mulheres japonesas pouco mudou nos últimos anos.
E dentro da política, o assédio sexual e moral, seja por colegas parlamentares e legisladores, seja por eleitores contra figuras femininas foi revelada no documento Politician Harassment White Paper.
Fonte: The Mainichi Shimbun
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