Notícias

Japão precisará de quatro vezes mais trabalhadores estrangeiros até 2040

No melhor cenário, o Japão precisará de 6,74 milhões de trabalhadores estrangeiros até 2040, no pior cenário, serão necessários 21 milhões. Confira as implicações desse déficit de mão de obra para a economia japonesa.

Em meio a uma crise populacional sem precedentes, o Japão precisará de quatro vezes mais trabalhadores estrangeiros até 2040 para ser capaz de manter um crescimento econômico saudável no futuro.

Sob as atuais circunstâncias, as projeções apontam que já na década de 30 haverá um déficit de cerca de 630 mil trabalhadores estrangeiros e mais 420 mil em 2040. Atualmente, o Japão conta com cerca de 1,72 milhões de trabalhadores não nacionais.

O atual contingente de trabalhadores estrangeiros no Japão são de 1,72 milhões, um recorde histórico, mas ainda extremamente baixo se comparado aos outros países desenvolvidos
O atual contingente de trabalhadores estrangeiros no Japão são de 1,72 milhões, um recorde histórico, mas ainda extremamente baixo se comparado aos outros países desenvolvidos

A falta de mão de obra é uma ameaça a manutenção não só para o trabalho propriamente dito, como também é uma ameaça ao sistema previdenciário do país. Com menos trabalhadores ativos, é cada vez mais difícil para o governo pagar os aposentados.

A pesquisa realizada pelo JICA (Japan International Cooperation Agency) e publicada no dia 3 de fevereiro de 2022 acendeu as luzes para uma mudança na política para a questão dos trabalhadores estrangeiros no Japão.

Inverno demográfico

Desde 2019, o Papa Francisco vem alertando o mundo sobre o inverno demográfico no mundo, com exceção dos países que compõe o continente africano (estima-se que as nações africanas terão metade de suas populações com menos de 25 anos em 2050).

Queda na curva populacional é registrada a partir de 2009 e segue despencando desde então. Gráfico criado pelo portal Nippon baseado nos dados do Ministério do Interior e das Comunicações
Queda na curva populacional é registrada a partir de 2009 e segue despencando desde então. Gráfico criado pelo portal Nippon baseado nos dados do Ministério do Interior e das Comunicações

Alguns países do leste europeu como Lituânia e Eslovênia, por exemplo, correm o risco de desaparecerem por causa da baixa taxa de natalidade e pela vazão da população mais jovem em busca de melhores oportunidades em países da Europa ocidental.

A China já sente os efeitos de uma desaceleração populacional que preocupa as autoridades de Beijing, mas a situação do Japão é a mais crítica do mundo quando se trata de taxa de natalidade.

Dados gerais demonstram a natalidade (vermelho), óbitos (azul), casamentos (roxo) e divórcios (verde). Dados compilados pelo portal Nippon baseado nos dados do Ministério da Saúde, Trabalho e Bem-Estar
Dados gerais demonstram a natalidade (vermelho), óbitos (azul), casamentos (roxo) e divórcios (verde). Dados compilados pelo portal Nippon baseado nos dados do Ministério da Saúde, Trabalho e Bem-Estar

Desconsiderando Mônaco e Saint-Pierre e Miquelon, o Japão tem a taxa de natalidade mais baixa do mundo. Dados preliminares apontam que em 2021 foram registrados cerca de 805 mil nascimentos no Japão, já os mortos devem superar chegar próximo a 1,5 milhões.

Problemas tangíveis

Sem os 6,74 milhões de trabalhadores estrangeiros no Japão até 2040, não será possível manter um cenário – otimista diga-se de passagem – de crescimento de 1,24% do PIB do país.

Mas existem muitos problemas que poderão fazer com que a economia japonesa despenque nos próximos anos. O presidente da JICA, Shinichi Kitaoka comentou sobre eles em um simpósio com Think Tanks em Tokyo.

De acordo com o presidente da JICA, o Japão precisa se tornar um país atrativo aos trabalhadores estrangeiros para ser capaz de competir com outras nações que buscam mão de obra estrangeira
De acordo com o presidente da JICA, o Japão precisa se tornar um país atrativo aos trabalhadores estrangeiros para ser capaz de competir com outras nações que buscam mão de obra estrangeira

“Precisamos tomar medidas para tornar o Japão atraente a longo prazo, um país a ser escolhido por trabalhadores estrangeiros. Se continuarmos assim, o Japão poderá se tornar uma aldeia deserta onde as pessoas são hostis aos estrangeiros, como consequência, menos pessoas virão e entraremos em um ciclo vicioso em direção a nossa queda”, afirmou Kitaoka.

A afirmação do presidente do JINCA refere ao fechamento das fronteiras do Japão para estrangeiros, sejam eles estudantes ou trabalhadores. Para saber mais, confira o artigo Fronteiras fechadas do Japão deixa pessoas no limbo.

Questão política

A necessidade de atrair 4,19 milhões de trabalhadores até a década de 30 e 6,74 milhões até 2040 está dentro de uma perspectiva otimista o qual o Japão seguirá investindo em tecnologia e automação e siga com crescimento acima de 1%.

Caso contrário, o JICA, o Development Bank of Japan Group’ s Value Management Institute e outros técnicos acreditam que o Japão precisará de mais de 21 milhões de trabalhadores estrangeiros.

Trabalhadores estrangeiros se manifestam em Tokyo por melhores condições de trabalho. Foto por Catherine Makino, IPS
Trabalhadores estrangeiros se manifestam em Tokyo por melhores condições de trabalho. Foto por Catherine Makino, IPS

Mas não se trata apenas de trabalhadores braçais, há uma corrida em muitos países por mão de obra qualificada, e nesse último grupo, a competição entre as principais potências e suas empresas é enorme.

Caso o Japão siga com sua política de manter-se como uma sociedade aparentemente homogênea, perderá espaço para outros países da região como China, Coreia do Sul, Vietnã, Singapura e Malásia, por exemplo.

Leia também

Dificuldades e perspectivas

A perspectiva mais recente do governo para o PIB japonês na década de 40 é de JP¥ 704 trilhões (US$ 6,1 trilhões), 15% a mais do estimado em 2015, mas o cenário pode ser incerto se as políticas de imigração não forem reformadas.

Atualmente, a força de trabalho estrangeira no Japão é de 1,72 milhões de pessoas, aproximadamente 2,5% da força de trabalho total, também é esperado que a força de trabalho nacional caia 10% nas próximas duas décadas.

Para se tornar um país atraente, será necessário mudar a política de imigração no país e conceder vistos mais longos ou permanentes para trabalhadores e seus familiares
Para se tornar um país atraente, será necessário mudar a política de imigração no país e conceder vistos mais longos ou permanentes para trabalhadores e seus familiares

O presidente do JICA foi enfático: “Precisamos discutir o ingresso de trabalhadores com urgência à medida que a competição por eles com países como a China crescerá muito nos próximos anos”.

Metade dos trabalhadores estrangeiros no Japão vem do Vietnã e da China, mas é esperado que mais pessoas de países em subdesenvolvidos como Camboja e Myanmar somem forças ao mercado japonês.

Contudo, enquanto a questão dos vistos de longo termo não for implementada para essas pessoas e suas famílias, o Japão seguirá patinando e enfrentando déficit de mão de obra no país.

1 comentário em “Japão precisará de quatro vezes mais trabalhadores estrangeiros até 2040

  1. Chegou a hora da migração? Já que aqui no Brasil está dificil essa pode ser uma nova oportunidade!!

Deixe uma resposta

%d