O CEO da Toshiba Corporation, Satoshi Tsunakawa, anunciou nesta segunda-feira, 7 de fevereiro de 2022 em uma conferência online que o conglomerado se dividirá em duas companhias públicas.
Inicialmente, a ideia era dividir a gigante da tecnologia em três, mas após revisar os planos, concluiu-se que dividir em dois trará maior dinamismo no mercado e aumentará a rentabilidade de seus acionistas.

A estratégia traçada por Satoshi Tsunakawa, apesar de prometer aumentar a margem de lucro, precisará do apoio de ao menos metade dos acionistas, o que deverá ser mais fácil do que a ideia inicial em repartir o conglomerado em três.
No plano anterior, seria necessário o apoio de dois terços dos acionistas. A medida anunciada ocorre após um escândalo envolvendo a corporação e o governo japonês que desagradou e minou a confiança dos investidores.
Escândalo contábil de 2015
Nos últimos anos, dois grandes escândalos na Toshiba Corp., um em 2015 e o mais recentem em 2021, abalaram não só a confiança dos investidores como a receita da companhia que se desvalorizou em US$ 18 bilhões em relação ao seu ápice dos anos 2000.
Em 2015, o então CEO Hisao Tanaka renunciou ao cargo após uma auditoria independente realizada por acionistas constatou uma fraude contábil em que US$ 1,2 bilhões em lucros operacionais simplesmente não existiam.

Essa fraude ocorreu ao longo de 7 anos e teve a participação de outros dois CEOs da corporação. Embora não se tratasse de uma fraude direta, os CEOs pressionavam seus subordinados a apresentarem os resultados desejados.
A prática começou após a crise financeira de 2008 e tinha como método contábil antecipar lucros, adiar perdas e adiar cobranças. Tudo isso só foi possível graças a uma cultura empresarial de obediência cega aos superiores.
Escândalo entre governo do Japão e Toshiba Corp de 2021
Outro escândalo abalou a confiança dos investidores internacionais em 2021 quando uma auditoria independente descobriu um conluio entre a Toshiba Corp. e o governo japonês por meio do Ministério da Economia, Comércio e Indústria.
Quando foi descoberto pela auditoria, os acionistas internacionais, especialmente a 3D Investment Partners exigiram a renúncia do então presidente Osamu Nagayama, um dos maiores executivos do Japão.

O conluio realizado em 2019 com o governo privava os interesses dos acionistas internacionais e buscava reduzir a influência de investidores estrangeiros na Assembleia Geral de 2020 por questões de segurança nacional.
Osamu Nagayama já atuou como CEO da Chungai Pharmaceutical Co. e como presidente do conselho de Administração da Sony Corp. Por ser um dos executivos mais importantes do Japão, grupos dentro da Toshiba defendem seu retorno no futuro.
Divisão e promessas de mais lucros
A reestruturação da Toshiba separará o setor do industrial (incluindo os semicondutores) que passará a ser listado como uma empresa na bolsa de valores, já o segmento de infraestrutura será mantido sob o guarda-chuva da Toshiba Corp.
Embora ainda não se saiba qual será a decisão dos acionistas, essa reestruturação está sendo e continuará sendo acompanhada de perto pelo Ministério da Economia, Comércio e Indústria dado a sensibilidade da questão.

“A Toshiba é uma empresa que possui tecnologias importantes que dizem respeito a segurança nacional do Japão como energia nuclear, infraestrutura e semicondutores. É importante que os negócios sejam mantidos”, informou Hirokazu Matsuno, Secretário-geral do Gabinete do Japão.
O plano também prevê que os acionistas recebam JP¥ 300 bilhões (US$ 2,6 bilhões) em dividendos nos próximos dois anos, 200% a mais em relação a meta anterior que fez valorizar a corporação em 1,6%.
Outras operações e venda de ativos
Além da divisão, Satoshi Tsunakawa informou que a empresa deverá abrir mão de 55% dos 60% de suas ações da parceira estadunidense de ar-condicionado, Carrier Global no valor de US$ 870 milhões e venderá as empresas de iluminação e elevadores.

Tsunakawa também pedirá urgência na listagem na bolsa de valores da Kioxia, fabricante de chips e que a Toshiba é acionista com 40,6% das ações. Os equipamentos eletrônicos também deixarão de fazer parte do negócio principal.
Somada todas as operações de venda de ativos e possíveis reestruturações, a Toshiba deverá movimentar JP¥ 860 bilhões (US$ 7,5 bilhões) até o final do ano fiscal de 2021, isto é, 31 de março de 2021.
Leia também
- Aliança ‘Renaut Nissan Mitsubishi’ investirá € 23 bilhões em carros elétricos
- Sony compra estúdio Bungie em meio a disputa com a Microsoft Xbox
- Toyota passa GM e se torna o número 1 em vendas globais
Críticas e dificuldades pelo caminho
Críticos acreditam que o plano de reestruturação é uma cortina de fumaça para acalmar os investidores internacionais em relação aos escândalos recentes. A divisão em duas também é vista como manobra para driblar a rejeição do plano.
Afinal, para dividi-la em três seria necessário uma maioria de dois terços, enquanto a divisão em dois só precisa de maioria simples, o que é negado por Satoshi Tsunakawa: “Não mudamos o plano para evitar o confronto com os acionistas”, disse na conferência.

De acordo com Damian Thong, analista de tecnologia, a divisão fará com que seja mais fácil de administrar e dar retorno. Ademais, a aposta é que as operações se tonarão mais simples e baratas.
Os acionistas internacionais que detém 30% das ações da empresa são contra o desmembramento da corporação. Embora minoritários, a aprovação não deverá ser tão fácil como o esperado.
0 comentário em “Toshiba Corporation anuncia reestruturação e deverá se dividir em duas empresas”