Durante todo o período Edo, o Japão foi dividido em cerca de 300 domínios. Cada domínio era governado pelo líder de um clã vassalo ao Shogun. Os líderes dos clãs vassalos eram chamados de daimyos, isto é, o senhor daquelas terras.
Ao longo desses 265 anos de shogunato, ou bakufu, é considerado do ponto de vista cultural, social, artístico e econômico, uma era de ouro, afinal, foi e continua sendo o maior período de paz na longa história do país.

Nesse período, o desenvolvimento econômico dos mais de 300 domínios era obviamente desigual, algumas regiões são naturalmente mais produtivas do que outras, outras são rota de comércio e as regiões costeiras que são sempre as mais ricas.
Daimyos em ordem hierárquica
Cada domínio distribuído aos daimyos respeitava uma ordem hierárquica dentro da estrutura do bafuku:
Shinpan (os ramos secundários da família Tokugawa); Fudai (os vassalos de longa data do clã Tokugawa); Tozama (clãs que se submeteram ao clã Tokugawa após a queda de Toytomi Hideoshi na famigerada Batalha de Sekigahara em setembro de 1600).
Modelo econômico do período Edo
O modelo econômico no período Edo está intimamente ligado com o sistema Han (“藩”, território). No Japão feudal, o lastro econômico, por assim dizer, era uma escala chamada Koku (石).

Um koku era equivalente a 180 litros de arroz, a quantidade necessária para alimentar um homem durante um ano, em outras palavras, assim como há o padrão petro-dólar, isto é, uma moeda lastreada em uma commoditie, no Japão feudal essa commoditie era o arroz.

Apesar das moedas de ouro, prata e outros metais preciosos, o arroz, alimento indispensável na culinária de todo o Japão, era o lastro principal da economia feudal japonesa, diretamente relacionada a segurança alimentar do país e a casta mais importante: os agricultores.
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12. Domínio de Mito – 350 mil koku

O domínio de Mito, ou Mito-han (水戸藩) foi estabelecido em 1608 na província de Hitachi, atual prefeitura de Ibaraki, por Ieyasu Tokugawa. O shogun nomeou seu 11º primeiro filho, Yorifusa Tokugawa como daimyo criando o ramo secundário da casa Tokugawa, Mito.
Em termos atuais, a receita anual de Mito girava em torno de JP¥ 105 bilhões (US$ 752,5 milhões), mas as maiores contribuições da atual capital da prefeitura de Ibaraki para o Japão foram sem sombra de dúvidas políticas, culturais, sociais, intelectuais e religiosas.
Mito-han é e foi conhecida pelos seus natto (soja fermentada), morango e trufa. Embora ocupe a 12ª posição entre cerca de 300 domínios espalhados pelo país, o daimyo de Mito gozava de grande prestígio político, incluindo o direito de utilizar o sobrenome Tokugawa (somente o daimyo).

Tokugawa Gosanke
O clã Mito era um dos três ramos secundários do clã Tokugawa (shinpan). Os líderes dos ramos Owari (iniciado com o 9º filho de Ieyasu, Yoshinao), Kishu (iniciado com o 10º filho de Ieaysu, Yorinobu) e Mito eram conhecidos como Tokugawa Gosanke (徳川御三家).
E apesar de serem ramos secundários do clã Tokugawa, não eram considerados shinpan.
Responsabilidade
A esses ramos era atribuída a responsabilidade de prover um novo shogun em caso do ramo principal da família Tokugawa não ter um herdeiro.
O mais notável entre os daimyos de Mito-han foi o segundo lorde, Mitsukuni, o terceiro filho de Yorifusa.
Coleção Dai Nihonshi
Mitsukuni fundou a Mito-gaku, uma escola shinto que promovia o confucionismo, também iniciou a coleção Dai Nihonshi (“大日本史”, História do Grande Japão) em 1657.

O trabalho de Mitsukuni passou contribuição de gerações do clã Mito e foi finalmente concluída em 1906, 251 anos depois. O segundo daimyo também reformou o Koishikawa Korakuen Garden, um dos mais belos e antigos de Tokyo.
Para a tarefa contou com Zhu Zhiyu, um dos maiores pensadores confucionistas que serviam a dinastia Ming, mas que acabaram no exílio. Zhu Zhiyu se tornou amigo pessoal de Mitsukuni e o aconselhou durante 17 anos.
O conselheiro chinês de Mitsukuni incentivava o lorde a dar atenção especial aos idosos e aos pobres, e a ser um bom governante para seu povo. Deu grandes contribuições na política e filosofia confucionista não só a Mitsukuni, mas também ao Japão.
Outra figura icônica da vibrante cidade de Mito foi o 9º daimyo, Nariaki. Entre seus principais feitos estão o Kodokan em 1841 (o último edifício do Japão feudal na cidade), uma escola que atendia pessoas das castas mais baixas da sociedade e oferecia uma enorme variedade de conhecimentos.
A escola não possuía exatamente uma grade curricular, estava mais próximo das Terakoya. A idade para admissão no Kodokan era de 15 anos e abrangia disciplinas acadêmicas regulares, mas tinha grande ênfase nas artes e doutrinas militares.

Lá, os alunos aprendiam confucionismo, etiqueta, história, astronomia, matemática, mapas e geografia, poesia, literatura, música entre outras disciplinas. Os temas militares focavam em artes marciais, estratégia militar, manuseio de armas, montaria, natação entre outros.
A reforma administrativa realizada por Nariaki foi profunda, eficaz e o galgou a posição de ministro da defesa do shogunato.
Com a chegada do comodoro Matthew Perry e sua esquadra, Nariaki defendeu o respeito ao Imperador e a expulsão dos bárbaros.
Em 1842 lorde Nariaki construiu o Kairakuen Garden, um jardim com cerca de 3 mil ameixeiras divididas entre mais de 100 espécies.
Apesar da sofisticada estética do parque, o espaço foi criado para que todas as castas pudessem desfrutar de sua beleza.
O nome do parque – Kairakuen – é uma alusão a uma menção da obra confucionista Mencius, pseudônimo do filósofo confucionista chinês Ji Mengke (姬孟軻): “Os ancestrais partilhavam o prazer com as pessoas fazendo dele [o prazer] sincero e profundo”.
Yoshinobu Tokugawa, filho de Nariaki, foi o 15º e último shogun do Japão devolvendo os poderes políticos ao Imperador em 1867 marcando o fim do período Edo e a modernização do novo estado japonês.
Durante a Restauração Meiji, o clã Mito se transformou em uma das famílias nobres do Império, depois foram elevados a condição de marqueses, por fim, duques. Desde o final da segunda guerra mundial, a família Mito administra o Museu Tokugawa.
11. Domínio de Hikone – 350 mil koku

O clã Ii administrava Hikone-han na antiga província de Omi, atual prefeitura de Shiga e sua receita anual girava em torno de JP¥ 105 bilhões (US$ 752 milhões) em termos atuais. Entre os han fudai, o de Hikone era o que tinha os maiores rendimentos.
Também ficaram conhecidos por nunca terem suas terras transferidas para outras partes do país como aconteceu com os clãs Sakai e Honda, por exemplo, mas principalmente pelo clã Ii ter sido peça chave na administração do shogunato.
Cinco gerações do clã Ii serviram como Tairo (ministro-chefe) do bakufu por seis vezes, e a relação com o clã Tokugawa com Naomasa Ii começou em meados de 1570.

Em 1600, Naomasa Ii era um dos quatro principais generais de Ieaysu Tokugawa (Tokugawa-shitenno) durante a batalha de Sekigahara.
O domínio de Hikone foi a recompensa de Naomasa por seu desempenho nesta batalha tão importante para a história do Japão.
Rota comercial e portos
A região é famosa pela qualidade de sua agricultura desde o período Jomon (14.000 a.C – 200 a.C), contudo, sua prosperidade durante o período Edo se deu com o desenvolvimento de rotas comerciais entre as cidades próximas, entreposto comercial e com o porto para transporte de arroz através dos portos do Lago Biwa, o maior do país.

O castelo de Hikone que começou a ser construído em 1603 e finalizado em 1622 pelo sucessor de Naomasa, seu filho Naokatsu Ii, é um o castelo mais bem preservado do período Edo.

Naotaka, segundo filho de Naomasa lutou no lugar do irmão mais velho, o daimyo de Hikone Naokatsu, no Cerco de Osaka (1614 – 1616), o que lhe rendeu grandes espólios do Tennōji após a batalha. Não obstante, tornou-se daimyo de Sawayama, nas terras do irmão Naokatsu.
A personalidade que cumpriu o papel mais importante para a história do Japão do clã Ii foi Naosuke em 1858. Naosuke havia se tornado daimyo em 1850 com a morte de seu irmão mais velho, Naoaki.
Quando assumiu o cargo de Tairo, Naosuke assinou o Tratado de Amizade e Comércio com os EUA sem a autorização Imperial, não obstante deu a si o cargo e autoridade chamada Ansei no Taigoku (supressor de extremistas pelo shogunato).

Sakuradamon gai
Esse ato de traição causou a morte de Naosuke em 1860 no que ficou conhecido como o Incidente Sakuradamon gai. O Então Tairo foi assassinado no Portão Sakurada do Castelo de Edo por um ronin do domínio de Mito.
Naonori, filho de Naosuke e que fora punido pelos crimes do pai, lutou ao lado dos guerreiros leais ao bakufu na batalha de Toba-Fushimi em 1868, mas mudou de lado e passou a lutar pelo governo Meiji durante toda a Guerra Civil Boshin, o que rendeu propriedades como prêmio.
Com a Restauração Meiji, Hikone se tornou uma prefeitura em 1871, varrendo o que restou do shogunato, depois disso tornou-se cidade da prefeitura de Shiga. O clã Ii foi elevado a condição de nobres com o título de conde em 1884.
10. Domínio de Saga – 360 mil de koku

Com uma receita anual levemente maior que os domínios anteriores, o domínio de Saga era administrado e governado pelo clã tozama, Nabeshima. Em termos atuais, sua economia girava em torno de JP¥ 108 bilhões (US$ 772,25 milhões).
Se em termos financeiros Saga-han na antiga província de Hizen, atual prefeitura de Saga não estava entre os primeiros, talvez fosse o domínio mais rico entre todos os outros em termos geográficos.
O clã Nabeshima serviu ao lado de Toyotomi Hideyoshi nos últimos anos do período Sengoku (1467 – 1603) quando ainda eram vassalos do clã Ryūzōji.
Com a morte de Takanobu Ryūzōji em 1584, Naoshige Nabeshima se tornou o tutor legal do herdeiro do clã Ryūzōji, Takafusa.

Seis anos depois, em 1590, Toyotomi Hideyoshi concedeu o direito do clã Nabeshima herdar os domínios e assumir o lugar do clã Ryūzōji com sua própria linhagem. A aliança entre o clã Nabeshima e Hideoyoshi chegou ao fim na batalha de Sekigahara.
Durante a batalha, o clã Nobeshima se voltou contra as forças de Toyotomi Hideyoshi e capturou as tropas do exército ocidental sob o comando do general Tashibana Muneshige.

Esse ardil facilitou a vitória de Ieyasu Tokugawa e garantiu a continuidade do controle de Saga como recompensa.
A partir de 1642, o shogunato ordenou que Saga-han protegesse o porto de Nagasaki, a única janela de contato entre o Japão e o exterior.
Além de ter 40% das terras agricultáveis, o dobro da média nacional, Saga foi pioneira no desenvolvimento tecnológico, que foram desde a produção de vacina contra sarampo, produção de canhões e até mesmo no desenvolvimento ferroviário do país.

Comunicação com o exterior
Sendo uma das únicas janelas de comunicação com o exterior, o clã Nobeshima estabeleceu uma relação comercial, política, cultural e tecnológica com outras nações, especialmente a Holanda, China e por algum tempo, Portugal.
Os livros e manuais que chegavam do exterior eram traduzidos para o japonês através de Saga-han, somente depois era copiado e transmitido para o interior do país.
A prosperidade advinda do comércio e da agricultura garantia grande estabilidade a região.
Ao longo de sua história houveram dois grandes eventos desestabilizadores no domínio de Saga: a Grande Fome de Kyōhō (“享保の大飢饉”, Kyōhō no daikikin) entre 1732 e 1733 ou mais, e o Tufão Siebold em 1828.

A Grande Fome causou um grande impacto demográfico, estima-se que entre 172 e 169 mil pessoas tenham morrido de fome em um período pouco maior de um ano em toda a ilha de Kyushu, já o Tufão matou quase 20 mil pessoas além da destruição material.
Em 1830 chega ao poder o 10º e último daimyo de Saga, Naomasa Nabeshima, aos 17 anos de idade.
Apesar de muito jovem, Naomasa foi o mais notável chefe do clã Nabeshima promovendo reformas administrativas, avanços científicos, acadêmicos e industriais.

Desenvolvimento da indústria local
Durante sua gestão, Naomasa reduziu o número de oficiais do governo para equilibrar as contas de Saga-han, promoveu o florescimento da indústria local de porcelana arita, chá verde e carvão.
Foi o primeiro a investir e trazer para o Japão a tecnologia a vapor como locomotivas e fornos industriais de reverberação utilizado para a extração de metais como cobre, níquel, alumínio e estanho, além de servir para a manufatura de cimento e concreto.

Muitos membros do clã Nabeshima foram figuras centrais na modernização do Japão no governo da Restauração Meiji ajudando a introduzir um sistema educacional, de justiça e a introdução de práticas médicas.
A abertura de Hokkaido e a transferência da capital pra Tokyo também foram feitos de autoridades oriundas do domínio de Saga. Com o final do shogunato em 1871, o clã Nabeshima ganhou o título de Marqueses.
9. Domínio de Chōshū – 370 mil koku

Localizado na atual prefeitura de Yamaguchi, o domínio de Chōshū na antiga província de Nagato, atual prefeitura de Yamaguchi, era controlado pelo clã Mōri. Sua receita anual, em termos atuais girava em torno de JP¥ 111 bilhões (US$ 795,3 milhões).
O clã Mōri, um clã tozama não eram naturais da antiga província de Nagato. Os Mōri descendem do clã Ōe, que por sua vez se originou do poderoso clã Fujiwara. Apesar da descendência, não eram descendentes do ramo principal da família Ōe.
O clã Mōri surgiu a partir do 4º filho de Ōe no Hiromoto, Ōe no Suemitsu (1202 – 1247), ou seja, durante o período Kamakura. Desde o bakufu Kamakura, e desde então o clã se estabeleceu na região Chūgoku (Hiroshima, Okayama, Shimane, Tottori e Yamaguchi).

A antiga província de Aki, que compreendia toda a região de Chūgoku, era não apenas a sede do poder dos Mōri, mas um local sagrado onde todos os ancestrais do clã estavam enterrados.
Mas, Terumoto Mōri, comandante do exército ocidental das forças de Toyotomi Hideyoshi na Batalha de Sekigahara foi derrotado, e com a derrota, três províncias foram perdidas, incluindo a então capital do han dos Mōri, Hiroshima.
A perca para o clã Mōri foi sem precedente. Das províncias que controlavam (Aki, Suo, Nagato, Bingo, Izumo, Oki, Iwami, metade de Hoki e metade de Bicchu), apenas duas seguiram sob o controle do daimyo de Mōri: Suo e Nagato.

A receita que o poderoso clã contava antes de 1600 era aproximadamente quatro vezes maior do que receberam a partir de 1600.
Mas pior do que o dinheiro, era a perda de Hiroshima, e consequentemente, de permanecerem nas terras de seus ancestrais.
O clã Mōri em cooperação com o clã Shimazu do domínio de Satsuma, tornaram-se a pedra angular do exército imperial japonês sob o estandarte da Coroa Crisântema e do Imperador Meiji contra a ordem shogunal.

Corre uma lenda que em todo shogatsu, os anciões feudais perguntavam ao daimyo: “今年は倒幕の機はいかに (A hora de derrubar o shogunto finalmente chegou?)”, e até 1666, a resposta era sempre a mesma: “時期尚早 (Não, ainda não?)”.
Por todo o período Edo, o que reinava neste era o sentimento anti Tokugawa. O clã Mōri, no entanto, se dissolveu pouco tempo depois da queda do clã Tokugawa com o último daimyo de Chōshū, Takachika em 1871. Seus descendentes ganharam o título de Duque.

Com o fim do clã e do han de Chōshū, a região mergulhou em um declínio econômico.
Enraizamento político
Apesar disso, a indústria do bambu e de cerâmica continuaram fortes. Chōshū também contribuiu politicamente para o país com o primeiro-ministro do Japão, Itō Hirobumi.
Muitas figuras políticas importantes do período Meiji como Shoin Yoshida, Shinsaku Takasugi e Kogoro Katsura vieram do clã Mōri.
Arquitetura Edo mais preservada
Atualmente, a cidade Hagi, uma vez capital domínio de Chōshū, é um dos locais com a arquitetura do período Edo mais preservados do Japão.
8. Domínio de Hiroshima – 430 mil koku

Hiroshima-han foi governada pelo clã Mōri até 1600, entre 1600 e 1619 pelo clã Fukushima até este ser realocado para o pequeno domínio de Takaino, e finalmente, pelo clã tozama Asano até a dissolução do sistema han em 1871.
O domínio de Hiroshima, antiga província de Aki contava com uma receita anual que em termos contemporâneos eram na casa de JP¥ 129 bilhões (US$ 925,3 milhões). Além da antiga província de Aki, o clã Asano também controlava oito condados da antiga província de Bingo.

Hiroshima é geograficamente abençoada, especialmente durante a política Sakoku (“鎖国”, país fechado). A cidade portuária é banhada pelo Setonaikai (“瀬戸内海”, Mar Interior de Seto) que banha as ilhas de Honshu, Shikoku e Kyushu.
Além da atividade pesqueira a portuária no Setonaikai, Hiroshima é cortada pelos rios Hon e Motoyasu, rios esses que traziam barcos mercantes das diversas províncias de han do Japão. Mas não era apenas do comércio que vivia a vibrante capital da antiga província de Aki.

Agricultura, plantações e produtos do mar
As margens do rio Ota foram utilizadas para a agricultura e plantação de bambu, algodão, cânhamo e papel.
A indústria de produtos do mar como algas, ostras e outros derivados marinhos também prosperaram durante o período Edo.
Itsukushima Jinja
Além da prosperidade econômica, Hiroshima abriga um dos locais mais sagrados do Japão e do shintō, Itsukushima Jinja (厳島神社), esse santuário na ilha de Itsukushima (ou Miyajima) foi construído no ano 593.
Durante o período Edo, as maiores e mais movimentadas cidades japonesas eram Osaka, Kyoto, e claro, Edo, a primeira cidade do mundo com mais de milhão de habitantes entre os anos de 1716 e 1736.

Embora não fosse tão grande quanto essas grandes cidades, Hiroshima era uma das mais vibrantes e movimentadas cidades do Japão feudal.
O clã Asano realizou grandes obras de infraestruturas na cidade tornando-a em uma cidade moderna e, a seu modo, cosmopolita.
Centro de produção intelectual
Hiroshima foi uma região onde a interação entre as castas fizeram deste han um centro de produção intelectual e com uma parcela significativa da população alfabetizada. Além disso, o modo de produção industrial, ou melhor, proto-industrial floresceu na região.

Com o fim do shogunato, Hiroshima se tornou uma cidade fundamental para a industrialização e a formação econômica capitalista do Japão e o clã Asano ganhou título de nobreza. Hiroshima também se tornou um hub entre as cidades industriais do Setonaikai e de Kyushu.
O militarismo na região teve um papel importante durante o período Meiji. O castelo de Hiroshima serviu como quartel general para cinco das seis divisões militares em 1886, além da transferência da academia naval de Tokyo para a ilha Etajima na baía de Hiroshima em 1888.
7. Domínio de Fukuoka – 473 mil koku

Fukuoka-han, o sétimo domínio economicamente mais poderoso do Japão feudal na antiga província de Chikuzen, atual prefeitura de Fukuoka, tinha uma receita de anual de aproximadamente JP¥ 141,9 bilhões (US$ 1 bilhão).
O clã tozama Kuroda manteve a administração e governo da região de 1600 até o fim do han em 1868.
Localizada na ilha de Kyushu, extremo sudoeste do Japão, Fukuoka é a maior cidade da ilha e desempenhou um papel central na história do Japão.
Comércio e diplomacia
Considerada como a porta de entrada para a Ásia, a região foi um dos pontos mais importantes do comércio e da diplomacia japonesa.
Tudo indica que a técnica arrozais encharcados chegou ao país a aproximadamente 2500 anos através da península coreana.

Ruínas de Itazuke
Em 1978 foi descoberto as ruínas de Itazuke no bairro de Hakata-ku, Fukuoka, um sítio arqueológico de um sistema de irrigação de agricultura feita com represas.
As ruínas de Itazuke é um dos sítios arqueológicos de agricultura das mais antigas do país.
Fukuoka foi fundamental para a diplomacia e comércio do Japão com os países da Ásia Oriental e da Eurásia.
Com agricultura consolidada desde a era Jomon, Fukuoka prosperou com o comércio de especiarias indispensáveis a corte e aos nobres da antiga Rota da Seda.

A capital desse han controlava o fluxo de bens de consumo e comércio com o interior do Japão, além de ser a capital diplomática do país.
Durante o período Edo, Fukuoka e Hakata eram cidades distintas, porém, consideradas irmãs. Foram fundidas somente em 1889.

Entrada do budismo no Japão
A região de Fukuoka-han foi uma das portas por onde o budismo entrou no Japão através da antiga Rota da Seda.
Por lá entrou a escola de budismo Mahayana via Josean/Busan (península coreana), e por Nagasaki, a escola Vajrayana de budismo através da China.
Isso fez de Fukuoka um dos locais mais proeminentes do estudo do budismo no Japão durante o período Edo.
Porém, são os santuários shintō que dão fama a religiosidade japonesa, especialmente na cidade histórica de Dazaifu, 15 km da capital Fukuoka.

Durante a queda do bakufu, o clã Kuroda lutou ao lado das forças imperiais na Guerra Civil Boshin nas batalhas de Aizu e Hakodate.
Com o fim do sistema han, o clã Kuroda se tornou parte da nobreza da corte Imperial com o título de marqueses.
6. Domínio Kumamoto – 540 mil koku

Kumamoto-han, ou Domínio de Higo (Higo-han), atual prefeitura de Kumamoto na ilha de Kyushu talvez seja a região que melhor preservou as características do período Edo, especialmente a cultura samurai e o artesanato, isto é, o trabalho manual.
Em termos contemporâneos, a receita anual de Kumamoto-han girava em torno de JP¥ 162 bilhões (US$ 1,15 bilhões).
O domínio de Kumamoto começou com a chegada de seu primeiro daimyo, Kiyomasa Kato, famoso general samurai do final do período Sengoku que a época de sua chegada, em 1589, tinha apenas 27 anos.

Kiyomama era natural da província de Owari, atual parte oeste da prefeitura de Aichi, e partiu para Higo com o objetivo de reconstruir tudo o que foi destruído nas intermináveis batalhas do período dos Estados Beligerantes.
O castelo de Kumamoto foi completamente restaurado em 1607, grandes obras de infraestrutura para a prevenção de enchentes, conservação das florestas e desenvolvimento da agricultura com o plantio de arroz foram implementados na região.
A revitalização da província de Higo foi realizada com trabalho árduo e a melhor tecnologia disponível da época.
O comércio exterior com portugueses e espanhóis durante os séculos XVI e XVII trouxe, além de riqueza e prosperidade econômica, tecnologia ocidental.

Kumamoto era a capital militar e cultural da ilha de Kyushu e muitos nomes importantes da história japonesa estão ligadas ao antigo Higo-han, entre eles, Tadatoshi Hosokawa, o terceiro daimyo de Kumamoto e o primeiro do clã Hosokawa que governou Kumamoto-han de 1632 a 1871.
Tadatoshi dá sequência de excelência ao clã Hosokawa. Seu avô, Fukitaka Hosokawa, também conhecido como Yūsai, foi um dos principais generais do shogunato Ashikaga, reconhecido poeta, artista marcial, mestre de cerimônia do chá, acadêmico e profundo conhecedor de Go, além de ser um grande cozinheiro.
O pai de Tadatoshi, Tadaoki Hosokawa foi um dos Rikyū Shichitetsu (“利休七哲”, Sete Luminares), os sete discípulos de Sen no Rikyū, a personalidade mais proeminente do Chanoyu (“茶の湯”, O Caminho do Chá) na tradição wabi-cha da cerimônia do chá no Japão.

Por conseguinte, Tadatoshi ficou conhecido como um grande artista marcial e um homem de muita cultura.
A convite de Tadadoshi Hosokawa, Miyamoto Musashi, um dos maiores bushi da história do Japão passou seus últimos dias em Chibajomachi, Kumamoto-han.
Lá, Musashi produziu sua principal obra: Go Rin No Sho (“五輪書”, O Livro Dos Cinco Anéis), um clássico dos tratados militares.
Além de fundar a escola de esgrima de combate com duas espadas Niten Ichiryu, Musashi dedicou seus últimos anos de vida ao aperfeiçoamento do Chanoyu, Zen, caligrafia, além de se ficar imerso em arte e cultura.

O castelo de Kumamoto fundou em 1755 por ordem do 6º daimyo de Higo-han, Shigekata Hosokawa, a escola Jishūkan.
Lá, os discípulos estudavam Os Quatro Livros e os Cinco Clássicos, o sistema Han; caligrafia, preparação de cerimônias, matemática, música, estudo de precedentes (arquitetura), exercícios físicos, Battōjutsu (arte do desembainhamento de espada), Nakinatakutsu, Sojutsu, Hojustu e montaria.

A escola funcionou até 1870 e era aberta a toda a população – de todas as castas – não apenas de Kumamoto, mas patrocinava bolsa de estudos para pessoas de outros domínios do Japão, e até mesmo para estrangeiros, o que fazia da Jishūkan uma escola única em todo o Japão.
Apesar do fim do bakufu, os naturais da prefeitura de Kumamoto afirmam orgulhosamente que o espírito samurai ainda vive em Kumamoto, uma afirmação incontestável. Confira:
O castelo de Kumamoto, palco do cerco de mais 50 dias promovidos pelos últimos samurais liderados por Saigo Takamori durante a Rebelião Satsuma contra o governo Meiji em 1877, foi a primeira cidade japonesa a enfrentar uma guerra moderna.
O escritor e filósofo Natsume Soseki, o rosto impresso na nota de mil ienes e que passou um bom tempo lecionando em Kumomato escreveu a seguinte afirmação sobre a prefeitura: “A grandeza futura do Japão dependerá da preservação do espírito de Kyusu ou de Kumamoto, o amor pelo que é bom e simples, e a aversão a inútil luxúria e as extravagâncias na vida”.

Com o fim do shogunato e do sistema Han, o clã Hosokawa ganhou título de nobreza entre marqueses e baroneses.
Morihiro Hosokawa, chefe da família Hosokawa, foi o primeiro primeiro-ministro do Japão entre agosto de 1993 a abril de 1994 de outro partido que não LDP desde 1955.
5. Domínio de Kishū – 550 mil koku

Governado pelo clã shinpan Kishū (o 8º shogun, Yoshimune, e o 14º, Yoshitomi, eram do clã Kishū) até o fim do sistema Han, Kishū-han tinha receita anual que em termos contemporâneos giravam na casa dos JP¥ 165 bilhões (US$ 1,17 bilhões).
A região de Kishū-han, antiga província de Kii que compreende a atual prefeitura de Wakayama e a parte sul da atual prefeitura de Mie.
Seu primeiro daimyo do período Edo foi Yoshinaga Asano e seu filho Nagaakira Asano, mas o clã foi transferido para Hiroshima em 1619.
Yorinobu Tokugawa, o 10º filho de Ieyasu Tokugawa, o mais poderoso entre os três Gosanke (Yoshinao, Yorinobu e Yorifusa) e fundador do clã Kishū assumiu o poder da província e mudou-se para o castelo de Wakayama.

A região prosperou através da agricultura e o clã Kishū-Tokugawa era especializado em agricultura e sabia produzir com técnicas como a de cultivo múltiplo, além de contar com saída para o Pacífico, Setonaikai e para a menor das quatro ilhas principais do Japão, Shikoku.
Além da agricultura, Kishū-han era famosa pela qualidade de seu shoyo, as mexericas kishū mikan, artigos de laca e a alta qualidade de seu carvão de carvalho.
Aliás, o shoyo chegou ao Japão através da região de Kishū-han em 1254 com uma receita de Kinzanji miso que o monge zen Kakushin trouxe de sua viagem à China.

Apesar de ser a quinta maior economia do Japão feudal, os constantes empréstimos contraídos com o shogunato, especialmente durante os períodos de fome desorganizaram as finanças do Han Kishū, especialmente no século XVIII.
Em 1860, antes do fim do shogunato (1871) e após os EUA obrigarem o Japão se abrir ao comércio internacional por intermédio do comodoro Matthew Perry e sua esquadra em 1853 no porto da baía de Edo, o clã Tokugawa estabeleceu laços diplomáticos com a Prússia.
Após a catastrófica Segunda Expedição Chōshū em junho de 1866 em retaliação contra o moderno domínio de Chōshū e que foi determinante para a queda do shogunato, iniciou o processo de modernização de suas forças a partir do modelo prussiano.

Com o fim do shogunato, esse processo de modernização do domínio de Kishū foi crucial para as bases que o estado japonês utilizou para estruturar as forças armadas imperiais. O ramo Kishū-Tokugawa recebeu títulos de nobreza (marqueses) durante o período Meiji.
4. Domínio de Owari – 619 mil koku

O domínio de Owari, atual parte ocidental da prefeitura de Aichi, foi controlada pelo clã Owari-Tokugawa, uma das três famílias conhecida como Gosanke. O clã shinpan Owari surgiu sob a liderança do 9º filho de Ieyasu Tokugawa, Yoshinao.
Com receita anual de JP¥ 185,7 bilhões (US$ 1,3 bilhões) em termos contemporâneos, Owari-han tinha como principal fonte de renda o comércio.
Com a sede do poder do clã Owari na próspera cidade de Nagoya, o domínio de Owari controlava importantes rotas comerciais.

Das cinco principais rotas que ligavam os diversos domínios a Edo, Nagoya controlava duas: Tokaidō, Nakasendō e a estrada secundária Minoji que ligava as duas principais pelo castelo de Inuyama, controlado pelo clã Naruse que era vassalo do clã Owari, e portanto, de Nagoya.
Não obstante, Owari-han tinha saída para o oceano Pacífico e também controlava a rota comercial de três rios da região: Kiso, Nagara e Ibi. Em suma, diversos bens circulavam pelas principais vias de comércio entre as províncias entre Kyoto e Edo.

A indústria da pesca também tinha grande importância para o domínio de Owari (ou domínio de Nagoya como também era conhecido), além da valiosa indústria madeireira do vale de Kiso onde eram extraídas as madeiras da mais alta qualidade do Japão.
Os produtos produzidos na região como os bonecos karakuri ningyou, o tradicional calçado japonês Geta, corantes, tenugui, Kiso Shikki (artigos de laca de Kiso), cerâmica, Oroku Gushi (pentes para cabelo de madeira) ainda podem ser encontrados na região.
A indústria madeireira criada durante o domínio do clã Owari-Tokugawa restaurou as florestas devastadas nas eras anteriores e estabeleceu uma política de preservação e reflorestamento para o usufruto das futuras gerações.

A região de Owari-han possui as mais famosas fontes termais do Japão e sempre atraiu turistas para desfrutarem dos serviços de onsen.
Além disso, as principais cidades das rotas comerciais como Nagoya, Inuyama e Narai desfrutavam da intensa interação entre pessoas de todas as castas criando uma cultura vibrante, arte estonteante, e, a sua maneira, cosmopolita.
Além do castelo de Nagoya e Inuyama, há muitas belezas no antigo domínio de Owari.
As belezas naturais que a geografia proporciona a região, festivais que remontam o século XIV, o Jardim Tokugawa (vizinho ao Museu de Arte Tokugawa) e gastronomia única.
Com o fim do sistema han em 1871, o clã Owari-Tokugawa recebeu títulos de nobreza (marqueses).
Atualmente o chefe da família é Yoshitaka Tokugawa, presidente da Associação Tokugawa Reimeikai, Diretor do Museu de Arte Tokugawa e presidente da Yakumo Sangyo, empresa que administra os ativos da família Owari-Tokugawa.
3. Domínio de Sendai – 626 mil koku

O antigo domínio de Sendai, atual prefeitura de Miyagi, tinha uma receita anual de aproximadamente JP¥ 187,8 bilhões (US$ 1,33 bilhões) e tinha como principal fonte de renda a indústria da pesca e agricultura graças as férteis terras da região bem como as rotas para Edo.
Controlado pelo clã tozama Date, Masamune Date, o primeiro daimyō de Sendai-han é uma das principais inspirações estéticas para o vilão do universo Star Wars, Darth Vader. Mas mais do que uma inspiração para as telas do cinema, Masamune Date foi um grande líder.
Conhecido como Dokuganryū (“独眼竜”, Dragão de Um Olho) por ter perdido o olho direto para a varíola, Masamune Date era considerado um brilhante estrategista, culto e com gostos sofisticados, incluindo gastronômico e poesia waka.

Masamune Date era tão sofisticado que se criou uma expressão em sua época: date-otoko (termo para descrever um homem elegante e talentoso).
Em um taiga drama (subgênero do jdrama) em 1987 chamado Dokuganryū Masamune bateu 39,7 pontos de audiência pela emissora NKH, o maior já registrado na história dos seriados de jdrama.
O castelo de Aoba, sede do poder do clã Date foi construído no topo do monte Aoba, uma obra prima da arquitetura e engenharia, e ao mesmo tempo uma fortaleza impenetrável protegida por uma altura de 130 metros de altura e pelas árvores do monte.

Sendai-han também controlava diversas estações da maior rota secundária, a Matsumaedō.
Tinha 530 km de extensão e cerca de 86 estações. Ligava Shirakawa (prefeitura de Gifu) a Minmaya (no extremo norte da prefeitura de Aomori) via Sendai e Morioka (prefeitura de Iwate).
Para além da estrada Matsumaedō, o domínio de Sendai também controlava importantes rotas comerciais marítimas (Pacífico) do norte de Honshu até a capital Edo.

Apesar da prosperidade que o domínio manteve ao longo do período Edo, a modernização do Japão na metade do século XIX começou a trazer problemas econômicos severos para Sendai-han.
Nas Guerra Civil Boshin, o domínio de Sendai era membro da Ōuetsu Reppan Dōmei (“奥羽越列藩同盟”, Aliança do Norte), uma aliança de 31 domínios das províncias de Ezo, Mutsu, Dewa, Echigo, o domínio de Mineyama, província de Tango e o domínio de Miike, província de Fukuoka contra a ordem imperial Meiji.

Derrotados, o clã Date recebeu títulos de nobreza (condes) e Munemoto Date foi indicado como governador do domínio de Sendai entre 1869 e 1870 quando renunciou em favor de seu irmão Muneatsu Date que ocupou o cargo até 1871.
Apesar do apontamento do Imperador Meiji para que o clã Date continuasse governando Sendai, a região foi severamente punida por participar da rebelião contra o governo Meiji diminuindo a receita de 626 kokus para 280, mas se supõe apenas 100.

A vida pública de Muneatsu Date ainda obteve quatro mandatos a Casa Alta da Dieta Imperial do Japão a partir de 1890.
O santuário Kameoka Hachimangū na cidade de Sendai foi erguido para abrigar os espíritos dos ancestrais do clã Date.
2. Domínio de Satsuma – 729 mil koku

O domínio de Satsuma compreendia parte do antigo Reino de Ryūkyū (Reinos das Léquias) e a atual prefeitura de Kagoshima.
A riqueza da região estava diretamente ligada a possibilidade que a geografia permite com o cultivo de cana de açúcar e a indústria açucareira.
Assim como no Brasil, a cana de açúcar foi o motor econômico deste poderoso domínio que também se beneficiava com o comércio marítimo entre a China continental e Taiwan, tanto na importação como na exportação (principalmente de açúcar).

Com uma receita anual de JP¥ 217,8 bilhões (US$ 1,54 bilhões) em termos atuais, Satsuma-han que era controlado pelo clã tozama Shimazu tinha uma importância econômica tão grande ao Japão que a partir de 1745, os impostos neste han eram cobrados não em arroz, mas em açúcar.
A produção era surpreendente, e apesar da cana de açúcar ter se popularizado e se diversificado em parte significativa do Japão por iniciativa do shogun Yoshimune Tokugawa, era impossível competir com o Satsuma-han.
Somente em 1713, o domínio de Satsuma e as ilhas Amami (controladas pelo clã Shimazu) produziram e venderam sozinhas para o mercado interno japonês 1,13 milhões de kin de açúcar, ou seja, 678 toneladas métricas.

A riqueza produzida fluía pelo açúcar no mercado internacional através de comerciantes chineses, taiwaneses impulsionou diversos avanços tecnológicos e científicos graças a sua geografia que permitia Satsum-han ser um dos poucos locais do Japão abertos as potências estrangeiras.
O domínio de Satsuma era tão poderoso que seus daimyos eram conhecidos como shogun do shogun.
Mas essa riqueza não veio fruto da competência e das melhores práticas, o clã Shimazu exerceu um governo de brutal opressão a população civil.
Tal como no Brasil, os trabalhadores dos canaviais eram submetidos a um regime de escravidão. Homens de 13 a 50 anos eram obrigados ao perigoso trabalho de corte e refino do açúcar.

No início do século XVIII, toda a aristocracia de Satsuma-han eram proprietários de pessoas que foram escravizadas. Em meados de 1850, quase 1/3 da população de Satsuma vivia cativa sob regime escravocrata.
O governo do clã Shimazu é considerado o mais brutal de todo o período Edo. Quando a venda de açúcar foi monopolizada pela administração do han em 1777, a venda privada de açúcar em Satsuma foi considerada crime passível de pena capital.
Concomitante a brutalidade da exploração econômica, a partir de 1775 o 8º daimyo de Satsuma, Shigehide Shimazu, um estudioso da ciência e cultura ocidental,fundou diversas escolas no domínio, entre elas medicina, matemática, astronomia, literatura e artes marciais.

Ao que consta, Shigehide sentiu-se envergonhado ao se tornar daimyo com o baixo nível educacional de seu domínio e fez uma grande reforma educacional do qual as escolas mencionadas fazem parte.
Este avanço na educação de Satsuma-han levado a cabo por Shigehide (que também era fanático pelo teatro Noh) somado ao intercâmbio com potências estrangeiras foi fundamental para a modernização do Japão durante o período Meiji.

O clã Shimazu foi fundamental para a modernização das forças armadas do país quando o 11º daimyo de Satsuma, Nariakira, adotou o modelo técnico-militar ocidental, bem como equipamentos bélicos modernos.
Essas inovações somadas as tensões com o clã Tokugawa foram decisivas para a queda do shogunato durante a Guerra Boshin.
E apesar de ajudar a restaurar o poder do Imperador, em 1877 o clã Shimazu realizou a Rebelião Satsuma contra o Imperador.

A rebelião, a mais séria contra a coroa crisântema, se tornou um blockbuster aclamado: O Último Samurai de 2003 dirigido por Edward Zwick.
A rebelião aconteceu contra a modernização (incluindo vestes e costumes) do Japão que extinguia a classe guerreira, seus privilégios e poder.
Após o fim do shogunato, a família Shimazu desempenhou um importante papel na modernização do Japão durante a era Meiji.
Atualmente os Shimazu estão na 32ª geração e são proprietários do grupo Shimadzu Ltd. com empreendimentos que vão do turismo a lojas de conveniência, construção civil e energia renovável.
1. Domínio de Kaga – 1,03 milhões de koku

Controlado pelo clã tozama Maeda, o domínio de Kaga, atual prefeitura de Ishikawa, contava com uma impressionante receita anual de JP¥ 307,5 bilhões (US$ 2,18 bilhões), a região foi governada pelo clã desde 1583 até o final do sistema han.
A principal receita de Kaga-han vinha do controle dos portos mais importante da rota marítima Kitamaebune que ligava os domínios de Hachinohe e Matsumae até Osaka via Mar do Japão e Setonaikai (que por sua vez se ligava a Edo pela rota marítima do Pacífico Higaki Kaisen).

O clã Maeda também controlava outros 9 pequenos han a partir de ramos secundários da família, entre os quais domínios Toyama e Daishōji, com rendimentos anuais que chegaram a 100 mil koku, isto é, JP¥ 30 bilhões (US$ 213 milhões) cada.
Os portos controlados pelo domínio Kaga estavam em uma região estratégica e de alto movimento para qualquer lado, era basicamente a metade do caminho de quem vinha do norte ou do sul do país.
Mais do que um centro comercial, a região foi fundamental para a logística de bens de consumo que circulavam pelas rotas Kitamaebune, Higaki Kaisen e até mesmo a rota do mar interior de Seto que ligava Kyushu a Osaka.

Bens de consumo, matéria prima, alimentos, insumos e outras mercadorias como peixe bonito, salmão, arenque seco, cedro de Hiba, cedro de Akita, artigos de palha, ouro e prata, engarrafados, artigos medicinais, algodão, ferro, sake, sal, cerâmica e muitos outros produtos eram armazenados e despachados na cidade de Kanazawa, sede do poder do clã Maeda.
Basicamente, o domínio de Kaga era um grande hub de entrepostos dos mais diferentes domínios banhados pelo Mar do Japão, por isso, grandes mercadores de todo o Japão financiavam e davam suporte econômico ao clã Maeda.
A grandeza de Kaga-han ainda é visível nos dias de hoje em cidades como Himi, Nanto, Tonami, Takaoka, Oyabe, Imizu, e é claro, a capital da prefeitura de Ishikawa, Kanazawa, seja por sua imponente arquitetura, seja pela sua cultura vibrante.

Ainda é possível também encontrar na região artesãos e artistas que carregam séculos de tradição na produção de seda, salitre de alta qualidade, papel washi, artigos de laca (incluindo uma técnica que colocava pó de ferro na laca ainda umedecida), mizuhiki, cerâmica e mais.
A contribuição gastronômica deste han para o Japão é considerável imensurável. Além disso, grandes contribuições acadêmicas de destaque foram promovidas no domínio de Kaga, a escola para estudos confucionistas Meirindo e a escola de artes militares Keibukan.

Kaga-han também era um grande produtor de pólvora e tinha uma poderosa força militar.
Foi um aliado importantíssimo na luta do Imperador Meiji contra as forças do shogun na Guerra Civil Boshin fornecendo de pólvora para abastecer as forças imperiais. Com o fim do shogunato, o clã Maeda recebeu títulos de nobreza (marqueses e visconde).
Quantos koku recebia o shogun?
Do PIB de 26 milhões de koku distribuídos pelo Japão durante o período feudal, ou seja, JP¥ 7,8 bilhões (US$ 55,38 bilhões), o shogun controlava diretamente 4,2 milhões de koku, ou seja, JP¥ 1,26 trilhões (US$ 8,84 bilhões), em outras palavras, quatro vezes mais do que o domínio de Kaga.

Contudo, se considerar todos os ativos do clã Tokugawa, a receita que era administrada pela família shogunal chegava na casa dos 7 milhões de koku, em outras palavras, JP¥ 2,1 trilhões (US$ 14,9 bilhões), uma riqueza 7 vezes maior do que o domínio de Kaga.
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