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Detox digital no Japão ganha força e visibilidade dentro da sociedade

A desintoxicação digital no Japão está em alta dado ao grande índice de dependência da sociedade em dispositivos eletrônicos, redes sociais e internet. Saiba mais.

A pandemia transformou a forma de estar em contato com os outros em meio ao isolamento imposto. Com isso, houve aumento do uso das redes sociais, do mundo virtual e esse excesso de exposição fez o detox digital no Japão ganhar força e visibilidade dentro da sociedade.

Detox digital no Japão

Afinal, muitos passaram a trabalhar remotamente, a maioria dos estudantes foram obrigados a terem aulas online e a única forma de estar conectado com seus afetos também foi através da internet.

Dependência digital já era um problema crescente antes da pandemia, após a normalização do trabalho remoto e do distanciamento físico/social, cada vez mais pessoas são dependente de dispositivos móveis
Dependência digital já era um problema crescente antes da pandemia, após a normalização do trabalho remoto e do distanciamento físico/social, cada vez mais pessoas são dependentes de dispositivos móveis

Se a dependência dos smartphones já vinha sendo registrada como um problema de saúde pública no Japão, a situação agora é ainda mais crítica, pois essa dependência gera outros problemas da saúde – física e psicológica.

É unanimidade entre especialistas que o uso excessivo de dispositivos eletrônicos prejudicam o sono, a capacidade de concentração, a postura da coluna, miopia, tendinite, entre outros problemas. Daí a importância do detox digital no Japão ganhar visibilidade.

Adicção em tecnologias digitais

Hoje em dia, existem empresas para atender ao crescente público que sente a necessidade de desconectar das redes, da internet e de seus smartphones, mas que não conseguem ou sabem como chegar lá.

A mais conhecida no momento é a Digital Detox Japan (disponível apenas no idioma japonês) que realiza uma série de campanhas para a interação com as pessoas e a natureza serem sem a presença de aparelhos tecnológicos.

Além de contar com uma plataforma, ferramentas e profissionais para ministrar cursos e treinamentos para organizações e empresas.

Arte digital alertando sobre a questão da relação de dependência emocional que as redes sociais criam em seus usuários
Arte digital alertando sobre a questão da relação de dependência emocional que as redes sociais criam em seus usuários

Uma pesquisa realizada pela Cross Marketing Inc., uma holding japonesa sediada em Tokyo e especializada em pesquisa e soluções de negócios, revelou que metade (50%) do grupo entrevistado de mil pessoas eram adictas em celular.

Muitos buscam ajuda para abandonar o vício em celulares ou aprender a fazer o uso adequado dessa ferramenta.

Outros ainda não se sentem seguros em não poder atender o telefone caso receba uma chamada ou responder mensagens/e-mail.

Experiências de adicção com smartphones

Adotar o detox digital no Japão é exatamente o que o nome propõe, uma desintoxicação do sistema nervoso dos estímulos causado pelas redes sociais, veiculação instantânea de informação e conectividade instantânea com outras pessoas.

Sachiko Sato, uma salarywoman de 46 anos disse em entrevista ao portal Kyodo, que se preocupava com o tempo que seu filho estava exposto as telas por causa do ensino remoto na pandemia.

Encontro de desintoxicação digital no Japão em meio a pandemia de COVID-19. Repare que não há dispositivos eletrônicos nas mesas dos participantes
Encontro de desintoxicação digital no Japão em meio a pandemia de COVID-19. Repare que não há dispositivos eletrônicos nas mesas dos participantes

Mas, ao observar o comportamento de seu filho, Sato percebeu que também era dependente das telas.

Ao se dar conta do tempo em que gastava no celular, Sachiko Sato resolveu entrar em um programa de detox digital no Japão.

Ela contou sobre suas primeiras experiências: “Me senti insegura a princípio, depois de uma hora não conseguia parar de pensar se alguém tinha ligado ou deixado uma mensagem ou como notificaria alguém se torcesse meu tornozelo, por exemplo”.

Os sentimentos vividos por Sachiko Sato são alguns dos sintomas de nomofobia, o medo de ficar sem celular
Os sentimentos vividos por Sachiko Sato são alguns dos sintomas de nomofobia, isto é, o medo de ficar sem celular

Mas Sato manteve o foco nas suas atividades e conseguiu segurar o impulso de ter o celular. Aliás, há um termo para definir pessoas que se sentem assim, nomofobia, “no” de não, “mo” de mobile e fobi, medo de ficar sem celular.

Sentindo-se mais livre hoje em dia, Sachiko Sato introduziu regras em seu dia a dia para conseguir ficar mais tempo longe de seu dispositivo móvel.

Por exemplo, não levá-lo até a mesa durante as refeições ou para a cama, “estou fazendo essa mudança pouco a pouco”, conta.

A transição das estações

Kazuya Mori, um salaryman de 58 anos de Tokyo contou que sua rotina envolve estar em frente ao computador durante o dia inteiro. Já em seus momentos vagos fica com o celular em mãos.

Após anos de condicionamento ao dispositivo eletrônico móvel, Kazuya Mori pôde voltar a apreciar a transição entre as estações do ano
Após anos de condicionamento ao dispositivo eletrônico móvel, Kazuya Mori pôde voltar a apreciar a transição entre as estações do ano

Recentemente o homem começou a realizar caminhadas sem a companhia de seu smartphone, passou a reparar nas belezas de cada estação e sua transição. Entendeu que os dispositivos são apenas um meio, mas não um fim.

Um homem de 27 anos da prefeitura de Yamaguchi, Yuto Itoyama, viralizou ao colocar em sua foto de perfil no aplicativo LINE: “Meu smartphone fica desligado a partir das 21:00”.

Yuto Itoyama, 27, natural da prefeitura de Yamaguchi viralizou nas redes sociais japoneses com o aviso em seu avatar do aplicativo LINE informado que seu dispositivo é desligado a partir das 21:00
Yuto Itoyama, 27, natural da prefeitura de Yamaguchi viralizou nas redes sociais japoneses com o aviso em seu avatar do aplicativo LINE informado que seu dispositivo é desligado a partir das 21:00

Itoyama está na luta da desintoxicação digital há quatro anos, desliga seu aparelho às 21:00 e utiliza o Instagram esporadicamente para se comunicar e se inteirar sobre seus amigos, mas prefere conversar pessoalmente com eles.

A importância de se desintoxicar digitalmente

Por não ser algo aparentemente inofensivo, diferente de bebidas alcoólicas, cigarros e outras drogas, perde-se a noção do perigo dos smartphones.

Smartphones, aplicativos e redes sociais não são entendidos como vício por não alterarem o estado de consciência como as drogas convencionais, contudo, já há vasta literatura e arte analisando o comportamento da sociedade moderna
Smartphones, aplicativos e redes sociais não são entendidos como vício por não alterarem o estado de consciência como as drogas convencionais, contudo, já há vasta literatura e arte analisando o comportamento da sociedade moderna

A dependência de celulares e smartphones é tão forte quanto qualquer outro vício, no entanto, há poucas informações sobre como identificar o vício. Confira alguns sintomas de nomofobia:

  • Ansiedade ou sensação estressante ao não encontrar o dispositivo;
  • Compulsão de checar o dispositivo em curtos intervalos;
  • Sensação de depressão, raiva ou ansiedade após gastar algum tempo nas redes sociais;
  • Sensação de obrigação em responder, curtir, comentar ou compartilhar conteúdos marcados ou postados em sua página;
  • Medo em ficar desatualizado dos novos acontecimentos, caso não se mantenha atento as notícias (públicas e privadas) pelas redes sociais;
  • Ir dormir tarde por passar horas da noite jogando no smartphone;
  • Dificuldade de concentração sem a presença do celular.

Esses são os sintomas mais perceptíveis para identificar e tratar o problema de dependência de dispositivos eletrônicos, mas há outros como dor nas costas, noites mal dormidas, irritabilidade, etc.

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Desintoxicação digital

Não é fácil realizar o processo de desintoxicação digital, especialmente porque não é possível abrir dos recursos tecnológicos. Contudo, é preciso estabelecer marcos pessoais e seguir.

Também é importante ser realista nas metas, além de aceitar o fato de sofrer uma dependência.

Para Shodai Morishita de 29 anos, diretor da Digital Detox Japan, o objetivo é fazer as pessoas repensarem a distância entre elas e seus dispositivos.

Em geral, a distância entre o indivíduo e seu dispositivo eletrônico é diametralmente oposta a distância entre o indivíduo e seus afetos
Em geral, a distância entre o indivíduo e seu dispositivo eletrônico é diametralmente oposta a distância entre o indivíduo e seus afetos

O início é sempre mais difícil, mas com pequenas regras no dia a da e substituindo velhos hábitos por atitudes mais virtuosas, será possível manter uma relação mais saudável com dispositivos eletrônicos, confira algumas:

  • Realizar refeições sem a presença de dispositivos eletrônicos, especialmente quando está comendo com outra pessoa;
  • Abandonar o uso do celular enquanto estiver andando ou indo para a cama;
  • Deixar de lado o aparelho durante o trabalho, projetos ou hobbies;
  • Não manter o celular consigo em momentos com família ou amigos;
  • Desligar o aparelho antes de dormir.

O detox digital no Japão ganhou força e visibilidade nos últimos tempos, mas o país não é o único que precisa pensar na consequência do uso desenfreado de tecnologias tão imersivas como celulares e redes sociais.

Confira um curta metragem intitulado Porcentagem da Vida, dirigido por Pascu Dragos sobre o vício digital.

O vídeo não tem legendas, mas o que acontece é intuitivo, já que não há falas, apenas mensagens de texto e comentários de fotos.

Um estudo conduzido pela Flurry mostrou que nos Estados Unidos, uma pessoa passa cinco horas por dia usando seus aparelhos eletrônicos.

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