Uma revisão na política interna da Japan Bank Post Co. de outubro de 2021 determinou que a partir de 17 de janeiro de 2022, clientes passarão a pagar uma taxa para que o banco receba moedas como pagamento ou depósito.
A medida é uma das políticas que vem na esteira da tentativa do governo central em digitalizar o país, e consequentemente, eliminar o papel moeda de transações financeiras e passar a utilizar apenas o dinheiro digital.

Muitos países estão criando suas moedas digitais como Brasil e EUA para diminuir o papel moeda de circulação e outros já estão mais consolidados nesse caminho, como China, Suíça e Nigéria.
Porém, adotar a moeda digital no Japão não será uma tarefa fácil dado a importância cultural que o papel moeda tem no país ao longo de sua história.
Nova política sem transparência
A nova política adotada pela Japan Bank Post em outubro de 2021 e validada em janeiro de 2022 obrigam seus clientes a pagarem uma taxa para depositar ou pagar contas com mais de 50 moedas. Confira:
- Até 50 moedas: sem taxa;
- De 51 a 100 moedas: JP¥ 550,00 (US$ 4,78);
- De 101 a 500 moedas: JP¥ 825,00 (US$ 7,18);
- De 501 a 1.000 moedas: JP¥ 1.100,00 (US$ 9,57);
- Acima de 1.000 moedas: JP¥ 1.100,00 mais JP¥ 550,00 a cada 500 moedas a mais.

As taxas são cobradas independentemente do valor das moedas. Um depósito de JP¥ 1.000,00 em moedas de 1 iene inclui uma taxa de JP¥ 1.100,00, ao passo que o mesmo depósito só que em moedas de 10 ienes pagará uma taxa de JP¥ 550,00.
Embora o banco afirme que existam exceções, a nova política não é transparente e seus clientes não são orientados sobre o que fazer ou como agir para entrar no critério de isenção da nova taxa.
Clientes e projetos prejudicados
Um dos clientes que mais se prejudicaram com a nova política da Japan Bank Post foi a organização sem fins lucrativos Nagomu, sediada na cidade de Kitakyushu, prefeitura de Fukuoka.
Dirigida por Mitsuhiro Yoshimoto, um homem de 80 anos, a Nagomu sente o peso de sua instituição não ter sido inclusa no critério de isenção das taxas. Ela é associada de aproximadamente 500 comércios de Kitakuyshu e em cada um há uma caixa para doações.
A filosofia da instituição de Yoshimoto é ajudar a comunidade com pequenos atos de bondade, por isso, as caixas de doações pedem pequenas contribuições, em suma, as moedas que os clientes recebem de troco.

Com o dinheiro arrecadado, a Nagoma patrocina os custos de estudantes universitários, além de prestar suporte a pessoas e famílias em situação de pobreza. Mas apesar da Japan Bank Post afirmar que possui exceções para sua política de taxas, a Nagomu não foi contemplada.
De acordo com Yoshimoto, sua organização recebeu uma ligação da Japan Bank Post informando que ela ‘não cumpria os padrões exigidos’, no entanto, sem especificar o quê exatamente.
Assim como a Nagomu, diversas outras organizações sem fins lucrativos do Japão correm risco, dado que a prática não está limitada ao Japan Bank Post e a maioria dos bancos japoneses também adotaram a mesma política de taxação de moedas.
Poucos recursos para recorrer
Sem informações do motivo de sua organização sem fins lucrativos, a Nagomu, não ter atendido as exigências para a isenção de taxas de moedas, Mitsuhiro Yoshimoto não teve como recorrer da decisão nebulosa do banco.
Em entrevista ao The Mainichi, Mitsuhiro Yoshimoto disse: “Se ao menos nos informassem em que exatamente não cumprimos com os padrões do banco, ao menos poderíamos tentar melhorar nosso padrão”.
Como não houve transparência sobre a nova política da Japan Bank Post, Yoshimoto foi obrigado a conversar com os comércios de Kitakyushu e pedir aos proprietários que repassem o dinheiro arrecadado ao Nagomu depois de trocar as moedas por notas.
Digitalização do dinheiro e Japão
Com a digitalização do Japão, é natural que o papel moeda, assim como diversas outras tecnologias obsoletas sejam abandonadas.
Conforme as capacidades do país em cobrir seu território com a tecnologia 5G, maior será a integração com a internet das coisas.
Além do que, as transações bancárias eletrônicas e simplificadas para compras e pagamento de contas como o PIX no Brasil e o Line do Japão, são cada vez mais seguras, com soluções rápidas e convenientes ao comércio e ao consumidor.

Apesar da tradição japonesa em presentear entes queridos com papel moeda, as novas gerações estão cada vez mais digitalizadas e não sentem o impacto tão grande como as gerações X (nascidos entre 1965 e 1980) e principalmente os baby boomers (nascidos entre 1946 e 1964).
Embora o processo de digitalização do Japão esteja em curso, uma das promessas da gestão do primeiro-ministro Fumio Kishida, ainda não está claro qual será a politica pública para instruir o público ao uso das novas tecnologias e aplicativos da vida pública.
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Moedas digitais não são criptomoedas
Muitos países estão regulamentando o uso de criptomoedas em seu território como Japão, EUA, Canadá, Brasil, Alemanha e França.
Em setembro de 2021, El Salvador, país que tem o dólar como principal moeda se tornou o primeiro a adotar o bitcoin como moeda oficial.
O resultado dessa experiência foi caótica, houve convulsão social, os preços do bitcoin subiram em ridículos e impraticáveis 18.000% e o país entrou em rota de colisão com o FMI (Fundo Monetário Internacional), que exige que o país abandone o bitcoin como moeda oficial.

O que é moeda digital?
É muito importante diferenciar criptomoedas das moedas digitais. De maneira simples, as moedas digitais são exatamente iguais ao papel moeda, isto é, são propriedades do estado, com o mesmo lastro do papel moeda e regulado por seus bancos centrais.
O que são criptomoedas?
Por sua vez, as criptomoedas (bitcoin é a mais conhecida delas) são moedas privadas, isto é, não são controladas pelo estado e por seus respectivos bancos centrais. Apesar do entusiasmo das moedas privadas, dificilmente substituirão as moedas nacionais.
E, se por um lado, há países regulamentando a circulação de criptomoedas, outros países já proibiram terminantemente seu uso em solo nacional, como Índia, China, Bolívia, Nigéria, Qatar, Egito, Tailândia, Iraque, Omã, Marrocos, Argélia, Tunísia e Bangladesh. A Rússia também considera proibir as criptomoedas em seu sistema financeiro.
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