O Dia da Maioridade no Japão, Seijin no Hi (成人の日), é uma das datas mais importantes e célebres dentre todas as celebrações nacionais. Em geral, a passagem para a vida adulta é celebrada na 2ª segunda-feira de janeiro.
Porém, em 2022 um Seijin no Hi separado aconteceu no Atelier Haruka, no bairro Naka Ward em Nagoya, um Dia da Maioridade inclusivo dedicado aos jovens com deficiência e aos que por algum motivo não quiseram participar do feriado nacional.

A iniciativa é a primeira que se tem notícia e tem como objetivo permitir que esses jovens ‘marginalizados’ também possam ter boas lembranças no futuro. No total, quatro jovens compareceram junto de seus parentes.
Nas palavras da organizadora Asami Takeuchi que felicitou os presentes aos prantos, “Espero que nós possamos ter uma sociedade onde eventos importantes como esse possam ser realizados naturalmente, incluindo pessoas deficientes”.
Medo e mal-estar
O Japão é um país modelo no quesito de acessibilidade ao espaço público (ainda que o interior do país não esteja em paridade com suas grandes metrópoles), contudo, eventos públicos não são pensados para todos.

Pessoas com deficiência são comumente alvo de troças e impaciência das massas que, na maioria das vezes, é incapaz de lidar com aqueles que são entendidos como diferentes.
O Japão tem um histórico sistêmico, afinal, a Yūsei Hogo Hō (優生保護法), Lei de Proteção Eugênica promulgada em 1948 que por meio dos Conselhos de Proteção Eugênica das prefeituras esterilizavam mulheres sem consentimento.
Além das esterilizações, também eram realizados abortos. O estado queria garantir que não nascessem pessoas com doenças genéticas, deficiência física ou mental. Ademais, em 1949 foi permitido por lei a partir de julgamento do médico, aborto por razões econômicas.

Essa lei da sequência a Kokumin Yūsei Hō (国民優生法), Lei Eugênica Nacional de 1940. Ela só foi abolida em 1996 com a Mother’s Body Protection Law (母体保護法), Lei de Proteção ao Corpo da Mãe.
Traumas e isolamento
Por causa da incompreensão da maioria dita como ‘normal’, muitos jovens com deficiência deixam de participar de eventos sociais, e o fazem também por um senso de respeito ao outro.

Eles consideram que falam alto demais em relação a outras pessoas, alguns tem dificuldade em manter-se parados. Muitos tem lembranças traumáticas que viveram durante suas vidas no período escolar.
Esse apartheid sutil e invisível trouxe profunda consternação a Asami Takeuchi. Takeuchi, 37, é coordenadora de uma associação que ajuda pessoas com deficiência a encontrarem uma vaga no mercado de trabalho.

Não obstante, Takeuchi é também empresária, proprietária de um café que opera com uma equipe de pessoas com deficiência. A ativista pode realizar uma cerimônia Seijin no Hi graças a solidariedade que surge em meio ao pandemônio das redes sociais.
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Mão amiga
Indignada com a situação dos jovens excluídos, desabafou nas redes sociais e pediu ajuda para encontrar alguma solução para a questão. Daisuke Iwai, presidente do grupo Atelier Haruka respondeu.

Iwai ofereceu a Asami Takeuchi um dos diversos salões espalhados pelo Japão, o do bairro Naka Ward em Nagoya para a realização de uma celebração inclusiva do Dia da Maioridade, os jovens que comparecessem receberiam atendimento gratuito no salão
Quatro jovens compareceram em trajes tradicionais, receberam atendimento no salão e posaram para fotos. Apesar de pequeno, preencheu o coração de todos os presentes com um sentimento de esperança de que no futuro as coisas sejam melhores.

Os jovens adultos se admiraram no espelho enquanto seus parentes não cansavam de ver a foto de seus filhos celebrando uma passagem tão importante dentro da cultura e da sociedade japonesa.
Fonte: The Mainichi
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