Nos últimos anos houve um crescimento substancial nas fazendas de insetos no Japão. A busca por alimentos mais saudáveis e sustentáveis é um dos motivos para a inovação.
Desde a declaração da emergência climática, especialistas vinculados a diversas áreas de atuação da ONU recomendaram que o consumo de carne seja interrompido, especialmente as carnes bovinas.

A ideia de fazendas como Gryllus Inc., empresa vinculada a Tokushima University é produzir alimentos sofisticados e nutritivos por um preço acessível a todas as casas japonesas, e dessa forma, depender cada vez menos de proteína animal tradicional.
A empresa começou a pouco tempo com o cultivo de grilos, em 2017 na prefeitura de Saitama. Já em 2018 passaram a comercializar os grilos para alimentação e a demanda pelo alimento só cresce no país que pretende zerar sua emissão de carbono até 2050. Confira.
Custo ecológico da carne vermelha
O argumento e a lógica são bem simples: um hectare de terra (10 mil m²) atende a uma população de 8 a 10 bovinos não confinados. Considerando que não haja devastação ambiental para criar pastagem, ainda assim, a quantidade de recursos é absurda.
Em geral, para produzir 1kg de carne bovina são gastos cerca de 15,5m³ d’água (15,5 mil litros). É provável que a soja que alimenta esses animais o seja de terras invadidas, ou então, a monocultura será responsável pelo empobrecimento do solo.

Além disso, os gases mais poluentes e que são soltos em toneladas diárias são produzidos por bovinos. Para se ter uma ideia, a queima de combustível fóssil no Brasil é responsável 15,1% das emissões de gases do efeito estufa que o país produz, o gado representa 15,4%.
E por mais que o Japão não seja um produtor, não deixa de consumir, e na divisão internacional do trabalho, o Brasil se colocou como fazenda do mundo, mas, com as fazendas de insetos e carne de laboratório, as coisas deverão mudar em pouco tempo.
Novo e competitivo mercado
Com vista no mercado sustentável, a economia verde, o que um dia foi sinônimo de pobreza e fome, nos dias vindouros serão as iguarias culinárias: “Estamos procurando produzir uma fonte sustentável de alimentos no Japão”, disse Fumihiko Kojin, presidente da Taiyo Green Energy, proprietária da Gryllus Inc.
Ryota Mitsuhashi, desenvolvedor de produtos varejista de insetos comestíveis, há um boom de empresas surgindo para marcar suas posições nesse mercado ainda incipiente, mas promissor no país.

“Até onde sei, são cerca de 26 corporações que estão voltadas para o cultivo de grilos, incluindo as que começarão produzir agora. Há também uma série de empresas cultivando larvas de moscas domésticas e bichos-de-seda”, contou Mitsuhashi.
A empresa que Ryota Mitsuhashi representa, a Takeo, comercializa insetos para o cosumo humano desde 2019 com uma rede de nove agricultores diferentes. Além disso, também cultiva gafanhotos junto com pesquisadores da Universidade de Hirosaki.
Regulamentação e burocracias
A ideia de cultivar insetos para substituir proteína bovina, suína, aviária entre outros animais utilizados como fonte de proteína e ferro é muito boa para o meio ambiente e para os negócios, contudo, não é fácil.
O novo mercado só passou por alguma regulamentação ainda em 2020 e ainda é bem difícil de ser conquistada por pequenos fazendeiros e empresários interessados, uma série de profissionais acompanha a criação para verificar as condições de higiene e outros padrões.

Yoshiki Matsumoto, professor de zootecnia da Kagawa University explica: “São medidas contra doenças infecciosas, por exemplo, são necessárias para insetos bem como preocupações tomadas para evitar que o gado transmita doenças aos humanos”.
O grupo de trabalho para as fazendas de insetos no Japão do governo, o Council for Public-Private Partnership in Food Technology (Conselho da Parceria Público-Privado para Comida e Tecnologia) determina as diretrizes para os dois setores, além de dar segurança ao consumidor pelo rigor controle de qualidade.
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Mudança gastronômica
Em recente entrevista, o presidente da Rússia, Vladimir Putin, perguntou se gostaríamos de viver em um mundo em que não se poderia comer carne. A verdade é que antes de mais nada, é preciso garantir que o mundo ainda seja capaz de sustentar a humanidade.
E no momento, o consumo alimentar precisará ser radicalmente transformado tal qual outros setores da economia, como os carros elétricos em que bilhões e bilhões estão sendo investidos em pesquisas e desenvolvimento, por exemplo.

Em um futuro não muito distante, a humanidade precisará se habituar a ter em seu prato um tipo de proteína animal que não consuma quantidade exorbitantes de recursos naturais e que respeite o delicado equilíbrio do planeta Terra.
Pouco a pouco os insetos se tornarão uma opção popular dado o crescimento populacional, emergência climática, crises econômicas e, em muitos casos, escassez de recursos naturais. Portanto, fazendas de insetos e laboratórios de carne se tornarão o padrão em pouco tempo.
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