Cientistas japoneses estão encontrando oportunidades na China

Sem muita perspectiva no país de origem, cientistas e pesquisadores japoneses encontram na China melhores oportunidades e ambientes de trabalho

Nos últimos anos, a China vem aumentando seus investimentos em pesquisa e tecnologia, tornando-se em 2022 o maior investidor no mundo. Em busca de um ambiente de trabalho mais pujante, alguns cientistas japoneses estão optando por ocupar uma vaga profissional lá.

Entre 2018 e 2022, a quantidade de papers produzidos por cientistas da e na China foi 12,26 vezes maior do que o Japão: 46.352 e 3.780 respectivamente. O número de pesquisa e produção científica japonesa vem sistematicamente caindo nos últimos anos.

Dinâmica do desenvolvimento tecnológico mundial
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Comparativamente, entre 1998 a 2000, o Japão era o 4º maior produtor de conhecimento com 4.369 papers, muito abaixo dos EUA no mesmo período (30.710 publicações), cerca de quatro vezes a produção chinesa, o 13º em produção científica com 1.217 paper publicados.

Já entre 2008 a 2010, a China se tornou o 2º país em produção científica com 9.011 papers publicados e referendados por seus pares. O Japão caiu para a 6º com o mesmo número de publicações da década passada.

Hoje o Japão ocupa a 12ª posição na produção científica, uma deterioração que levou muitos cientistas como Motoharu Nowada, natural de Kanagawa, desistir de trabalhar em seu país de origem para cooperar com colegas chineses.

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Jovens cientistas japoneses têm muita dificuldade em encontrar empregos, e quando os encontram, o ambiente profissional é muito denso, coloca uma pressão muito grande sobre esses profissionais.

No caso de um cientista de 30 anos que não quis se identificar, procurou uma vaga como professor assistente em instituições de ensino superior. A vaga não chegou e o jovem considerou procurar empregos em áreas diferentes de sua especialidade.

Rigidez e poucas oportunidades em instituições de ensino superior no Japão atrai jovens cientistas para o país vizinho, a China
Rigidez e poucas oportunidades em instituições de ensino superior no Japão atrai jovens cientistas para o país vizinho, a China

Contudo, lembrou de uma conferência que participou nos EUA em 2019. Lá, conheceu um professor universitário da China. Ele conta que o professor falava com entusiasmo e brilho nos olhos sobre o novo projeto em um novo centro de pesquisa com estudantes internacionais.

O jovem sentiu-se frustrado. Enquanto pesquisadores japoneses sofrem com baixo orçamento, falta de tempo para realizar uma pesquisa adequada, o que leva seus profissionais a se desmotivarem e repensar em seu trabalho, na China a ciência floresce.

Quando voltou ao Japão, contou para sua companheira sobre as pessoas que conheceu e sua vontade de trabalhar lá.

Ciência em destaque na sociedade

A situação no Japão era tão desoladora, que o pesquisador de 30 anos foi para a China apenas com um convite informal de um professor chinês em um congresso internacional de ciências nos EUA. Não havia nenhuma garantia de que ele fosse admitido no programa.

Mesmo assim arriscou. Ao chegar na China, tornou-se professor assistente e conseguiu mudar-se para a China com a família na primavera de 2022. Nesse novo ambiente, descobriu diferenças significativas no campo científico dos dois países.

A academia e a pesquisa cientifica possui um alto grau de reconhecimento e prestígio na sociedade chinesa
A academia e a pesquisa cientifica possui um alto grau de reconhecimento e prestígio na sociedade chinesa

Enquanto no Japão, a academia e a produção científica não ocupam uma posição de prestígio e destaque na sociedade, na China, esses segmentos são muito bem avaliados pelo cidadão comum e gozam de alto respeito pela sociedade chinesa.

Outra diferença é o interesse de seus colegas por publicações, o jovem conta ao Asahi Shimbun que encontrou pesquisadores motivados e que não perdiam uma oportunidade de publicar um novo trabalho.

O jovem, contudo, não se ilude e sabe que nem tudo são rosas na vida dos pesquisadores na China, afinal, o maior investidor em pesquisa no país é o estado, portanto, a supervisão é alta. Mesmo assim, ele se sente animado em realizar novos trabalhos.

Na China por acaso

A história de Motoharu Nowada, 49, natural de Kanagawa, se confunde com a do jovem descrito acima. Em 2010, Nowada teve um contrato de dois anos como pesquisador na Peking University, em Beijing ao valor de JP¥ 32.500,00 (U$ 245,00 na época) mensais.

Ao final de seu contrato, voltou ao Japão e se diplomou Ph.D pela Tokai University. Após concluir os estudos, saiu em busca – sem sucesso – de uma vaga como professor em instituições de ensino superior.

Peking Univeristy em Beijing
Peking Univeristy em Beijing

Nowada só encontrou um posto de trabalho em Taiwan em um contrato de dois anos e meio, mas após o fim desse contrato, a busca por uma vaga em instituições japonesas foi tão infrutífera quanto as tentativas anteriores.

O pesquisador foi novamente contatado pela Peking University, um paper produzido por Motoharu despertou o interesse em um professor da instituição e trabalhou na universidade por cinco anos.

Ao fim do contrato teve ainda mais dificuldade em encontrar uma vaga em uma universidade japonesa por causa da idade. Mas, o trabalho de Motoharu na Peking Universty o fez ser procurado para assumir a posição de professor associado na Shandong University até 2024.

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Nowada contou ao Asahi Shimbun que atualmente ganha cinco vezes mais do que em seu trabalho anterior. Apesar de não ter um contrato fixo, o pesquisador afirma não se arrepender de trabalhar na China.

Um dos grandes diferenciais no ambiente de produção científica chinesa é a interatividade e proximidade entre supervisores e pesquisadores, uma intensa troca entre colegas que trabalham em diferentes projetos de diferentes laboratórios via rede social.

Motoharu Nowada, 49, natural de Kanagawa, trabalha a cerca de uma década na China
Motoharu Nowada, 49, natural de Kanagawa, trabalha a cerca de uma década na China

“Acredito que o ambiente que permite cientistas discutirem sobre qualquer coisa entre eles é a causa principal do avanço da capacidade de pesquisa da China.”, muito diferente da realidade japonesa altamente rígida e hierarquizada.

Para Nowada que já trabalha há uma década em instituições da China, essa é a razão por trás do sucesso tecnológico do país e não a quantidade de dinheiro investida em produção científica.

O pesquisador disse não estar surpreso com o número de japoneses que desejam ir para a China em busca de uma vaga. Motoharu afirma que ele mesmo não teria escrito tantos artigos científicos.

A falta de oportunidade e de um bom ambiente de trabalho poderá custar um êxodo de cérebros para o exterior. “Espero que os jovens cientistas japonesas considerem a China como uma opção de destino, mas que venham sabendo que a competição no país é grande”.

Fonte: The Asahi Shimbun, artigo escrito por Yu Fujinami, Mutsumi Mitobe e Shoko Tamaki

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