O Studio Ghibli é uma das marcas mais fortes do Japão, além de ser consolidada internacionalmente pelas suas produções únicas que se tornaram referência para profissionais da criação aos amantes da sétima arte.
Continue lendo e aprenda sobre a história do estúdio de animação mais famoso do Japão.
Studio Ghibli

Contar a história do Studio Ghibli se entrelaça com as carreiras e jornadas de quatro nomes fundamentais: os diretores Hayao Miyazaki e Isao Takahata, do homem de negócios Yasuyoshi Tokuma e do jornalista produtor Toshio Suzuki.

Aliás, Toshio Suzuki é o responsável por ter detalhado toda a história, desde os primórdios da criação e todo processo envolvendo o surgimento do Studio Ghibli no Japão.
Seus relatos em primeira pessoa eram encontrados no antigo site oficial do Studio em forma de blog, além das dezenas de entrevistas e informações coletadas por fandoms especializados e mídia tradicional de grandes veículos de comunicação, assim como de trabalhos acadêmicos nas línguas japonês e inglês. Confira.
Tokuma Shoten contrata Toshio Suzuki
Toshio Suzuki é contratado na década de 80 para trabalhar em uma revista especializada em anime da Tokuma Shoten.
Por conta disso, o jornalista conheceu muita gente da indústria do anime no Japão.
Foi quando ficou encantado com a qualidade do trabalho de Hayao Miyazaki e Isao Takahata na produtora Toei, que além de amigos seguiram pelas mesmas empresas trabalhando juntos ao longo dos anos, além de ter uma relação de mentor (Isao) e aprendiz (Hayao).
Já Yasuyoshi Tokuma desempenhou importante função de homem de negócios onde conduziu tudo de acordo com a indústria, ao mesmo tempo em que conciliava os sonhos e vontades de Hayao, Isao e do produtor Suzuki.

Indústria era focada na televisão e nas crianças
Até então, no Japão era comum que as empresas de animação apostassem apenas em animes para televisão em episódios curtos.
O alvo das exibições eram apenas as crianças e o primor pela qualidade não era algo valorizado. Até porque o orçamento era curto.
O que importava era a rapidez nas entregas, na informalidade dos funcionários em um mercado que engolia pessoas nos processos.
Mas, quando eles lançaram Nausicaa do Vale do Vento em 1984 em uma parceria com a produtora Toei e a Tokuma Shokuten as coisas começaram a mudar.
Ao final das contas, o trabalho bem-feito, com a animação sendo feita a mão e a primazia nos detalhes, além de adotar o modo de storytelling Kishotenketsu fizeram com que o anime fosse um sucesso comercial entre adultos.

Naquela época, era comum contratar por projeto. Então, até os três primeiros filmes do Studio foram montados times de 70 pessoas pelo tempo de cada produção. Se um filme dava certo, partiam para o próximo.
Tanto Nausicaa, quanto Castelo no Céu foram produzidos pelo Isao Takahata e dirigidos por Miyazaki.
Castelo no Céu

Foi quando eles lançaram em 1986 Laputa: Castelo no Céu co produzido com a Tokuma Shoten, Hakushodo e Top Craft.
Criação por necessidade
O estúdio de animação que tinha feito Nausicaa não existia mais, por isso foi necessário criar um, que recebeu o nome de Studio Ghibli.
O nome foi uma inspiração vinda do motor italiano de aviões Caproni Ca. 309 Ghibli. O pai de Miyasaki trabalhava com construções de aviões e este motor aparece no anime Porco Rosso em clara referência.

Quem contou a história do nome foi Toshio Suzuki, mas Hayao quando foi questionado em um documentário se limitou a dizer que era apenas um nome que ele pegou de um avião.
Mais uma vez, o anime Laputa: Castelo no Céu foi um sucesso no Japão e desta vez estratégias de marketing e publicidade passaram a fazer parte das ações. Até então, nada era feito nesta parte.
Afinal, como empresa eles precisavam sobreviver para continuar produzindo e apesar de ir contra ao que era praticado pela maioria dos estúdios de animação, sem verba nada fariam.
O anime foi exibido na televisão em horário nobre às 21, além de ter feito parte de ações promocionais em parceria com outras empresas que ditaram o modo de agir em relação a direitos de marca e foram fundamentais nos próximos contratos.
Studio Ghibli vira uma empresa com funcionários fixos e muito bem pagos
A animação de longa duração O Serviço de Entregas da Kiki foi o primeiro hit de bilheteria ao ter atraído mais de 2 milhões de pessoas aos cinemas.
No entanto, até Kiki o Studio ainda não tinha funcionários, o valor pago a equipe temporária era baixo e eles trabalhavam em um andar de prédio alugado.

A mudança na indústria já começa neste estágio, pois até então o padrão dos estúdios de animação japoneses era não contratar.
O comum era pagar por folha de desenho e demanda entregue em sistema freelancer. Além disso, o trabalho em sua maioria era feito em CGI ou usando técnicas de computação.
Salário que dobra
Já o Studio Ghibli por decisão de Hayao deveria ter funcionários fixos que recebessem um salário que dobraria todos os anos, com equidade de salário para homens e mulheres.
Totoro possibilita que o Studio continue

Totoro foi outro sucesso comercial e arrecadou US$ 41 milhões na bilheteria internacional e US$ 1.46 bilhões em vendas nacionais de vídeo e produtos licenciados.
Além disso, o personagem Totoro começou fazer parte do logo da empresa, além de ter virado um sucesso comercial, coisa que salvou o Studio nos próximos anos e foi importante para seu crescimento e desenvolvimento.

Foco não era venda de brinquedos
Apesar do sucesso dos itens do Totoro, o lema proposto de mudança pelos diretores e produtor era não sacrificar a qualidade dos animes e não deixar o rumo ir para a venda de brinquedos licenciados. O foco era fazer filmes e os produtos da marca seriam colocados em segundo plano.
Isso já ia ao contrário da indústria, que prezava a venda de produtos licenciados e não produção de filmes.
Custos enormes de produção, mas equipe valorizada
Ter uma equipe fixa que recebe aumentos todos os anos acabou fazendo com que o custo da produção fosse enorme de forma gradual e constante.
A mão de obra era cara e para que este sistema funcionasse, a equipe deveria estar sempre ocupada trabalhando em algum anime.
Enquanto Castelo no Céu estava sendo finalizado, Hayao Miyazaki recebeu a tarefa de trabalhar sozinho em Porco Rosso, pois o time estava ocupado e a empresa precisava continuar produzindo.

Sobrecarregado de trabalho, encontrou uma solução inusitada e ousada, que de forma incomum foi aprovada por Yasuyoshi Tokuma.
Surgimento da nova sede

A ideia era construir uma sede maior para abrigar mais funcionários e aumentar a capacidade de produção sem reduzir custos e preservar a qualidade das produções, além de fornecer um espaço adequado para as pessoas.
Até então, trabalhava todo mundo junto em uma sala apertada. O diretor Hayao Miyazaki desenhou a construção, escolheu os materiais e aprovou tudo com o orçamento liberado pelo Takayaki vindos do caixa que foi possível ter graças a vendas de brinquedos do Totoro. Fez tudo isso enquanto terminava sozinho Porco Rosso.
Lançamento duplo em uma ação ousada


Eles fizeram um lançamento duplo de O Túmulo dos Vagalumes dirigido pelo Isao Takahata e Meu Amigo Tororo de Miyazaki em 1988.
Outro movimento ousado a fim de dar espaço para os dois criarem animes de forma paralela sem pensar no lado comercial em primeiro plano, mas na abertura dos dois poderem satisfazer seus lados artísticos.
Produções de alto custo, alto risco, mas grandes retornos
Nesta etapa, o Studio tinha produção de alto custo, alto risco, mas com grandes retornos. Se gastava muito para fazer os animes, mas o retorno era igualmente bom.
Lucro reinvestido nos animes
Ao mesmo tempo, o Studio consolidava sua reputação com animes de qualidade. Desta forma, todo o ganho era reinvestido na empresa para fazer as películas para cinema.
A partir da construção da nova sede, passaram a ter espaço para criar novos departamentos fazendo com em um único lugar fosse possível ter criação e desenvolvimentos de novos animes, com suporte para distribuição e divulgação.
Este detalhe é um outro fator que separa o Studio Ghibli de outros estúdios no Japão, que a premissa é fazer tudo o mais barato e terceirizado em sua forma geral. Em outras palavras, trabalhar na indústria não é nada fácil até os dias atuais, pois o Studio Ghibli é um negócio único no Japão.
A partir dali a engrenagem continuou funcionando com todos os lançamentos dentro do Japão sendo sucessos de bilheteria com animações pensadas para o público japonês.
No entanto, com distribuição em parceria com a Disney, os animes ficaram conhecidos pelos ocidentais.
Mas, foi depois de A Viagem de Chihiro ter ganhado o prêmio de Oscar na categoria melhor animação em língua estrangeira em 2003, que a popularidade fora do Japão estourou.

Foram lançados 21 animações de sucesso nos últimos 28 anos (até o momento).
Hoje, grande parte da renda vem do museu, dos direitos dos animes e do recém inaugurado parque.




Como está o Studio Ghibli atualmente?
Após a morte de Isao Takahata em 2018, a aposentadoria de Hayao Miyasaki em 2013 e o envelhecimento de Suzuki, novos ares estão sendo soprando no Studio.
A justificativa da aposentadoria de Miyasaki foi a de abrir espaço para novos talentos surgirem. No entanto, retornou em 2021 para trabalhar em sua última animação Como você vive? em dedicação ao seu neto.
O anime e último trabalho do diretor está sendo feito aos poucos e sem pressa. Atualmente metade está pronto e a previsão de lançamento ficou para 2023.
Segundo uma entrevista de Suzuki, o Studio está dividido em duas equipes atualmente, a de Miyazaki com técnicas antigas e a de seu filho Goro Miyazaki mais focado em produção usando tecnologia computadorizada. A última animação do estúdio foi dirigido por Goro em Aya e a Bruxa de 2020.

Mudança de pensamento e acordo com gigantes do streaming
O sistema de negócios do Studio apesar de ser altamente lucrativo, tem grande parte da verba reinvestida na produção de animes e no pagamento de sua equipe.
Por isso, apesar de Hayao Miyazaki ter ficado muito relutante em disponibilizar os animes para os streamings, foi convencido de que esta verba seria importante para o lançamento de novas produções futuras e fazer com que o Studio continue engrenado e ativo nos próximos anos.
Foi assim que todo o catálogo ficou disponível na HBO Max e na Netflix.
Qual é o primeiro filme do Studio?
Se você leu toda a história de criação percebeu que existe uma pegadinha que acabou fazendo com que as pessoas ficassem na dúvida, sobre qual filme seria o primeiro lançamento do Studio.

Oficialmente, Castelo no Céu foi a razão para o Studio ser criado em 1986 por uma questão técnica. O Nausicaa foi lançado em 84, desenhado por Hayao, dirigido pelo Takahata, produzido pelo Toshio Suzuki, mas o Studio Ghibli ainda não existia.
No entanto, a animação Nausicaa não deixa de ser um clássico que merece ser apreciado pelos fãs.
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Filmes do Studio Ghibli

Vamos deixar em ordem cronológica todos os lançamentos abaixo.
Nausicaa do Vale do Vento – 1984 – Kaze no Tani no Naushika
Lançamento do filme Nausicaa do Vale do Vento (Kaze no Tani no Naushika) em 1984 dirigido por Miyazaki e produzido Takahata. Foi lançado um ano antes do Studio Ghibli surgir.

Laputa: Castelo no Céu – Tenku no shiro Rapyuta – 1986

Meu Amigo Totoro – 1988 – Tonari no Totoro

Túmulo dos Vagalumes – 1988 – Hotaru no Haka

O Serviço de Entregas da Kiki -1989 – Majo no Takkyubin

Memórias de Ontem – 1991 – Omoide Poro Poro

Porco Rosso – 1992 – Kurenai no Buta

Ocean Waves – 1993 – Umi ga Kikoeru

Pom Poko – 1994 – Heisei Tanuki Gassen ponpoko

Susurros do Coração – 1995 – Mimi wo Sumaseba

Princesa Mononoke – 1997 – Mononoke Hime

Meus Vizinhos, os Yamada – 1999 – Hohokekyo Tonari no Yamada Kun

A Viagem de Chihiro – 2001 – Sen to Chihiro No Kamikakushi

O Reino dos Gatos – 2002 – Neko no Ugoku Shiro

O Castelo Animado – 2004 – Hauru no Ugoku Shiro

Contos de Terramar – 2006 – Gedo Senki

Ponyo – 2008 – Gake no Ue no Ponyo

O Mundo dos pequeninos – 2010 – Kari-gurashi no Arietti

Da Colina Kokuriko – 2011 – Kokuriko Zaka Karo

O Conto da Princesa Kaguya – 2013 – Kaguya no Hime

Vidas ao Vento – 2013 – Kaze Tachinu

Memórias de Marnie – 2014 – Omoide no Marnie

A Tartaruga Vermelha – 2016 – Reddo Tatoru: aru shima no monogatari

Aya e a Bruxa -2020 – Aya to Majo

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