Rei Kawakubo é uma estilista japonesa e um nome da moda internacional alçado a patamares que poucas pessoas conseguem. É a cofundadora da empresa de moda Comme des Garçons e da rede de lojas de multimarcas de luxo Dover Street Market, com lucro estimado de US$ 380 milhões anuais.
Continue lendo e saiba mais sobre uma das estilistas mais influentes do século 20.
Rei Kawakubo

Nascida em Tokyo em 11 de outubro de 1942, Rei Kawakubo, se formou na Universidade de Keio em 1960 em arte e estética* onde seu pai dava aulas. Cresceu em um Japão pós segunda guerra mundial em um período difícil.
*Essa informação diverge de acordo com algumas reportagens cobrindo a carreira de Rei com alguns citando formação em arte e literatura. A estilista não costuma falar sobre si para a mídia.
Começou a trabalhar no departamento de marketing de uma empresa que fabricava tecidos acrílicos quando teve que colocar seu lado artístico em prática quando recebeu liberdade para criar e divulgar os produtos.
Depois disso, começou um empreendimento para conseguir independência financeira usando seus talentos autodesenvolvidos em 1967 como estilista freelancer, já que nunca se formou em moda.

Comme de Garçons (CDG)

Se juntou com um grupo de amigos no Japão e fundou a Comme des Garçons em 1967 onde virou a head criativa da marca com criações que mudaram o mundo da moda internacional.
A primeira loja de Tokyo abriu em 1973 e nos Estados Unidos em 1983. Foi o começo de seu império.
Segundo conta em uma entrevista rara ao The Guardian quando foi questionada sobre o motivo de não ter colocado seu nome na empresa, contou que o foco não era ela. A sugestão do nome veio de forma espontânea e achou ótimo.
Em 1987 lançou a versão Hommes Commes des Garçons com roupas para homens.
Inicialmente com um escritório em Tokyo e depois em Paris na década de 80 lançou em 82 na semana de moda internacional conceitos nunca antes vistos e colocou o preto como uma opção fashionista válida.
Colaborou com o estilista Yohji Yamamoto por anos com quem mantinha um relacionamento na época e juntos se posicionaram na capital da moda.

Hiroshima Chic?
Logo que sua coleção de 1982 chamada Destroy (destruído) com roupas pretas de cortes assimétricos, muitas vezes com buracos e rasgos, com um caimento largo saiu, os jornais e críticos ocidentais passaram a chamar a moda de Rei como Hiroshima Chic e moda pós atômica, coisa que desagradava a estilista.

Os termos usados pela imprensa ocidental faziam referência a destruição de Hiroshima causada pelas bombas atômicas e a conseguinte pobreza e miséria que se instalou no Japão. Era comum ver pessoas andando com tecidos de cor escura e rasgados.
Kawakubo contestou estes termos dizendo que os críticos não entenderam em nada sua coleção, que nada tinha haver com o Japão e sua destruição pós guerra.
Influências punk

De poucas palavras e declarações, Rei admitiu que tem influências do movimento punk instalado na Inglaterra com roupas pretas, customizadas no estilo Do it Yourself e fora do padrão.
Com espírito de rebeldia que desafiava normas e a popularização em massa com destaque para liberdade e autoexpressão.
Rei normalmente é vista com uma jaqueta de couro preta, óculos escuros e roupas nada fashion ou chamativas, mas confortáveis.
Rei Kawakubo mostra em suas coleções o choque cultural entre ocidente e oriente, muitas vezes fazendo referências a isso. Estudou a moda ocidental pela Vivienne Westwood e Christian Dior. Westwood também fazia uma disrupção usando influências punk em suas coleções.
Não à toa, a moda da Comme des Garçons colocou na mesa os termos antimoda, já que não segue nenhum conceito, fazendo um ponto de contracultura.
Até os dias atuais não é colocada no molde fashionista, apesar de ter tido o reconhecimento máximo da moda ao ser homenageada pelo MET em 2017 (Metropolitan Museum of Art) e do baile tradicional realizado pela Anna Wintour.

“Em 40 anos de carreira, nunca pensei em moda um único dia sequer”
Rei Kawakubo
Ressignificação da moda
Construiu uma carreira sólida em que desafiou os conceitos de moda fazendo uma contra cultura, propôs novos olhares quanto ao significado das roupas e chocou as pessoas ao longo dos anos.
Com sua ousadia e criatividade conquistou uma base de fãs fieis, incluindo gente conceituada e famosa na moda. Marc Jacobs e Alexander McQueen são apenas alguns que já disseram que sofreram influência de Rei nas suas criações.
No mundo artístico, Lady Gaga, Katy Perry e Rihanna já usaram pelo menos uma peça de Rei.

Tirem suas próprias conclusões

De personalidade forte e reservada, Kawakubo se manteve longe do público maior, pois raramente deu entrevistas, tampouco explica suas criações para a imprensa, sugerindo que as pessoas tirem suas próprias conclusões.
Importância da sensação e não da aparência
Em suas palavras polêmicas diz que o que importa não é a aparência das roupas, mas como elas fazem a pessoa se sentir.

Em sua primeira loja, havia poucos espelhos e a decoração era minimalista. Apesar de não falar com a imprensa, ficava na loja e atendia consumidores dando um atendimento especial no começo.
Reconhecida como workaholic, o estúdio da Comme des Garçons ocupa três andares onde a estilista trabalha, junto com uma equipe de apoio.
O clima é de seriedade, mas colaborativo com encorajamento para estilistas terem sua própria marca, que poderá entrar sob as asas da Comme des Garçons junto de outros nomes a exemplo de Junya Watanabe.
Body meet dress, dress meet body, and they become one*
Sua primeira coleção deixou grande parte dos críticos chocados, pois Kawakubo desafiou os padrões sobre como um corpo feminino devia aparentar/ser.
*Corpo conhece vestido, vestido conhece corpo, e eles se tornam um.

Oficialmente batizada de lumps and bumps, os vestidos tinham formas que se destacavam no corpo com calombos e pequenas deformações.
Fuga dos padrões impostos
Segundo Kawakubo contou depois, no ano de lançamento na década de 80, o padrão seguido por todos era criar roupas que sexualizavam o corpo feminino ou glamurizavam. Ela não queria isso, queria fugir dos padrões impostos pela moda.
“…mulheres que não precisam assegurar suas felicidades ao parecer sexy para homens, ao destacar suas figuras, mas atrai-los com suas mentes”.
Sua coleção não fez sucesso entre os críticos, mas conquistou pessoas por conta da criatividade e do conceito artístico, já que suas roupas pareciam obras de arte ambulantes e eram muito confortáveis.
Segundo sua teoria, uma mulher independente não teria que mostrar o corpo para se sentir sexy, mas estar confortável para exercer sua liberdade.
Estética wabi-sabi
As criações de Rei Kawakubo tem muito da filosofia japonesa wabi-sabi, quando a imperfeição é valorizada na construção de uma estética real.
Coleções criativas e exclusivas
Durante os anos marcou história com coleções que se tornaram clássicas e notórias por sempre apresentar algo novo e criativo.
Já falou que a busca pelo novo é algo que a atormenta e sempre representa um processo difícil e de sofrimento. Por isso, quando acaba uma coleção não quer mais olhar ou pensar nela.
Fazer isso seria doloroso, pois cria suas roupas a partir de como está se sentindo no momento e geralmente impulsionadas pela revolta e raiva.
Desta forma, cada peça acaba sendo única e um retrato de algo que já não existe mais, mostrando a efemeridade das coisas.
O curador que ficou responsável pela seleção de peças para a exposição no MET contou na época que foi muito difícil convencer Rei Kawakubo a colocar roupas icônicas de coleções passadas, amadas pelos fãs para mostrar a evolução da marca ao longo dos anos.
Objetos de colocar no corpo
Após colocar o preto como protagonista, lançou uma coleção inteira na cor vermelho, foi para o dourado e depois passou a dizer que não faria mais roupas, mas objetos de colocar no corpo ignorando limites impostos, como a forma da anatomia humana.
Uma mulher de negócios acima de tudo

Apesar de ter sido apontada mais como artista do que estilista ao longo dos anos, sempre deixa claro nas entrevistas que não se considera nem uma coisa ou outra.
“você vende arte para uma pessoa. A roupa é algo pessoal e individual porque você expressa sua personalidade. Tem uma participação ativa. Arte é passivo.
Se reconhece como uma mulher de negócios, já que entendeu bem, que para sobreviver em meio a indústria da moda, deveria ter o lado comercial forte da Comme des Garçons.
Afinal, um negócio precisa dar lucro e vender. Com estratégias e ideias inovadoras, conseguiu obter sucesso investindo em qualidade, exclusividade e criatividade, além de não ter feito dívidas ao longo dos anos para crescer.
Foi crítica quando a moda se rendeu ao fast fashion com grandes volumes e pouca exclusividade.
“As pessoas apenas querem roupas baratas e estão felizes em parecer como todo mundo”.
A rendição das pessoas em trocar roupas exclusivas e de ótima qualidade pelas do fast fashion em grande escala deixa Rei indignada, que sempre batalhou pela autoexpressão pela moda, mesmo que fosse avessa a este conceito e a rótulos.
Ainda sim se manteve flexível ao mercado e adaptou suas coleções criativas de alfaiataria para opções comerciais e que pudessem ser usadas no dia a dia para serem vendidas em 2002 com a marca Play mirando o público jovem.

Além disso, criou uma base de fãs que compravam suas criações mesmo em tempos de crise. Em 2008, quando a recessão batia forte, teve a ideia de disponibilizar todas as peças mais vendidas a preços honestos para seus clientes. Deu certo.
Lojas Pop-up

Adotou um sistema de lojas chamado de pop-up store (lojas guerrilha), em que criou um conceito diferente de tudo.
A loja abria em determinado ponto sem decorações exageradas, mas com tudo minimalista.
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Duração de 1 ano
Sem festa de abertura ou furor, era inaugurada com data para fechar quando completasse um ano. Diversas lojas assim abriram em diferentes países fazendo a marca ganhar notoriedade global e maior alcance.
As pessoas ficavam ansiosas por novas lojas e aproveitavam bastante pelo período. Elas duraram de 2004 a 2008.
Dover Street Market

O Dover Street Market é um negócio luxuoso de Rei com seu marido arquiteto Adrian Joffe, atual CEO da DSM e seu tradutor quando dá entrevistas.
O empreendimento é um marketplace de luxo de vários andares com espaços decorados com arte e estruturas que são trocadas de tempos em tempos.

No local, as principais marcas de luxo, além de estilistas com potencial expõem seus produtos para um mercado ávido por roupas de coleções saídas das passarelas. Tudo isso em um ambiente imersivo e com experiência de compra única.
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