Artista Yoshitomo Nara

Yoshitomo Nara: artista faz arte para refletir, estimular filosofia e espiritualidade

Yoshitomo Nara cravou seu nome com obras emocionantes e que despertam indagações interiores

Para quem se interessa em arte, Yoshitomo Nara é um artista contemporâneo japonês que vale a pena conhecer.

Em 2019, virou notícia com a venda da pintura “Knife Behind Back” (Faca atrás das costas de 2000) por U$ 24.9 milhões em Hong Kong no Sotheby’s. Com isso, Yoshitomo, se tornou um dos cinco artistas vivos mais caros do mundo.

Knife Behind Back foi vendido por U$24.9 milhões

Além disso, suas obras tiveram uma revalorização no mercado. Uma parede desenhada em um bar da cena punk chamado Niagara, localizado em Nova York na Avenue A, passou valer entre U$ 5 a U$ 7 milhões, segundo estimativas.

Parade de bar Niagara em Nova York

O artista desenhou na parede do estabelecimento a mão livre após alguns drinks em fevereiro de 2009 sem pretensões.

Os donos cobriram com uma superfície plástica para preservar os desenhos e segundo reportagens, o artista ainda frequenta o local quando está na cidade.

Yoshitomo Nara

Yoshitomo Nara em foto de 2020 em seu estúdio com uma de suas obras mais recentes Miss Moonlight

Yoshitomo Nara possui um estilo cartoon pop art com influências renascentistas, da literatura, grafitti, da pintura e do punk rock.

Além disso, mistura técnicas milenares com o moderno em suas esculturas em cerâmica, além de montar instalações, usar fotografias, desenhos, sketches e pinturas.

Em uma entrevista para o The Wall Street Journal contou que tem como modelos Matisse e Van Gogh.

Para refletir

Suas pinturas mais famosas representam crianças fofas, mas sisudas com olhos expressivos, usando cores fortes em fundos planos e traços marcados.

Também usa animais para estimular reflexões e considerações filosóficas.

Emoções

Seu trabalho reflete algumas emoções básicas surgidas na infância que acabam depois impressos na personalidade de adultos.

É simples, fantasioso e dual, muito comum da inocência dos pequenos. O fato de suas crianças serem fofas, mas com um lado sombrio ou rebelde mostram ao mesmo tempo complexidade.

Suas pinturas estimulam a imaginação para diferentes interpretações. Frequentemente, as crianças carregam objetos cortantes e outros símbolos impactantes, tudo para revelar um lado sombrio em uma postura defensiva.

“Olhe para elas, (armas) são tão pequenas, como brinquedos. Você acha que elas poderiam lutar com isso?”.

Infância solitária, mas independente

O mais novo de três irmãos meninos passou muito tempo de sua infância sozinho e achava conforto em animais e música, além de não ter sido muito bom na comunicação verbal com adultos. Foi criado por seu pai e avô que eram padres do shinto.

Na sua pré-adolescência por volta dos dez anos mudou-se da cidade histórica montanhosa para a capital japonesa em Tóquio.

Foi criado em um Japão pós segunda guerra quando foi exposto a HQs e mais da cultura pop americana.

No entanto, contou em entrevista a curadora Mika Yoshitake ao canal do YouTube do Museu de Arte de Los Angeles que sua arte não possui essa influência, mas nutre admiração, já que marcou sua infância.

Vida e formação

Yoshitomo Nara nasceu em 5 de dezembro de 1959 em Hirosaki, Aomori, Japão. Estudou belas artes e música na Universidade de Aichi em 1987 onde ganhou os prêmios BFA e MFA.

Universidade Aichi de Belas Artes e Música

Depois, estudou na prestigiada Kunstakedemie Dusseldorf (1988 a 1993) na Alemanha.

Kunstakedemie Dusseldorf

Lá ele se envolveu com a cultura do punk rock e conheceu o Neo-Expressionismo que acabaram influenciando seu estilo.

Além disso, em 1994 enquanto morava em Cologne passou a incorporar tendências japonesas e ocidentais em seus trabalhos em uma mistura de moderno com o antigo.

Cologne, Alemanha

Redescoberta

Vivendo na Alemanha voltou a se sentir isolado, pois era estrangeiro e não falava a língua. Então, teve um vislumbres de sua infância em Aomori. No entanto, a experiência o ajudou a lembrar sua identidade e a se redescobrir.

Influências musicais

Capas de álbum da banda de pop punk Shonen Knife

Segundo uma entrevista de 2014 para a revista Financial Times, Yoshitomo Nara contou que além das influências da música punk em sua vida, como Shonen Knife, as capas de álbuns folk também o influenciaram, assim como outros gêneros.

“Não tinha nenhum museu onde eu cresci, então minha exposição a arte veio através de capas de álbuns.”

O primeiro contato com música folk e rock americano se deu por conta de transmissões de rádio perto da base aérea americana em Misawa durante a Guerra do Vietnã.

Foi neste período que ele se deu conta da complexidade das guerras, ouviu sobre debates nucleares e desastres ecológicos.

A música possui grande influência em sua vida e acabou estimulando sua arte. Além disso, é colecionador de vinil e CDs.

Retratos de crianças

Passou a pintar retratos de crianças com características faciais do Otafuku e das máscaras teatrais Okame com influências do uki-yo no começo de sua carreira nos anos 90.

Don’t Mind, If You Forget Me

O artista acabou vivendo 12 anos na Alemanha e apenas retornou ao Japão em 2000 com uma exposição chamada Don’t Mind, If You Forget Me* (Não Se Importe, Se Você Me Esquecer) no museu de arte de Yokohama.

*Don’t Mind pode ser interpretado como não se importe ou não ligue no sentido de não se incomode com isso.

Elite artista

Em 2001, Yoshitomo passou a integrar o seleto grupo de artistas conhecidos como Superflat que incluem Takashi Murakami e Chiho Aoshima.

Obras de sucesso

Yr. Childhood

Foi em 2008 que ele vendeu através da Christie’s uma pintura de 1995 retratando uma criança com chapéu laranja chamada Yr. Childhood por HK$ 19,720,000 em 2015. Na cotação atual*, essa quantia vale U$ 2,543,158.70.

*Cotado do dólar de Hong Kong para o dólar americano dia 17/01/21.

Terremoto de 2011 e suas influências

Após o grande terremoto seguido pelo tsunami em 2011, as obras do artista sofreram drástica influência com representações da impermanência, temporalidade e a beleza do presente (agora) que pode ser observado na escultura Miss Forest/Moriko de 2017.

Essa escultura com mais de sete metros representa a Terra. A cabeça se expande até o alto como se fosse uma antena para conectar com o céu e até o espaço sideral agindo como um catalisador.

Nas palavras de Yoshitomo, os indígenas sobem em locais altos para fazer orações e esse é o espírito de sua obra.

Miss Forest

Após o desastre natural, Nara chegou a parar seu trabalho completamente. Afinal, a área destruída pelo tsunami era conhecida por ele, pois ficava entre Aomori e Fukushima.

Além disso, perdeu amigos na tragédia. Por isso, foi morar um tempo na Universidade de Aomori com o objetivo de se reconectar com sua criatividade.

Exposição em 2014 Blum &Poe, Los Angeles

As esculturas feitas em bronze foram feitas com suas mãos deixando marcas de seus dedos.

Elas representam a terra e o artista estava repleto de sentimento de luto também pela morte do pai e conseguiu colocar todas as suas impressões e sentimentos.

Life is Only One

Yoshitomo Nara

Em suas palavras e em entrevista ao South Morning Post na época de sua exposição Life is Only One (A Vida é Única) em 2015, Yoshitomo Nara contou que antes sua arte era baseada em emoções simples e diretas, como felicidade ou tristeza de forma exagerada com ação.

Serenidade e calma

Depois do terremoto passou a representar serenidade ou explorar a tristeza de outra maneira, mostrando como podemos superá-la com representação calma e poderosa.

A expressão facial de suas pinturas e desenhos passaram a ser mais sutis, ou seja, não conseguimos dizer se estão felizes, tristes ou com raiva, por exemplo. As pessoas precisam pensar e refletir para saber.

A obra Can’t Wait till the Night Comes* de 2012 foi outra obra vendida pela Christie’s a HK$92,875,000 em 23 de novembro de 2019.

*Em sua tradução literal, a frase pode ser interpretada como “não posso esperar até que a noite chegue ou venha”, mas o sentido é de ansiedade, como “não vejo a hora de anoitecer”.

Can’t Wait Till Night Comes

Sem expressões políticas ou culturais

Yoshitomo Nara contou em entrevista para a revista Ocula em 2016 que suas obras não carregam mensagens políticas, tampouco são linkadas a algum país específico ou pessoas.

Ele apenas tenta expressar questões individuais que possam ressoar dentro de cada um.

Retrospectiva no LACMA

A pandemia de coronavírus adiou uma de suas exposições no Museu de Artes de Los Angeles (LACMA), já que o locaL está fechado temporariamente.

O espaço mostraria uma retrospectiva de todo trabalho de Nara, desde 1984 até os dias atuais, com mais de 100 pinturas, esculturas e instalações, além de 700 desenhos em papel.

A exposição ainda conta com uma galeria com 350 álbuns de música que ele colecionou e o influenciaram durante os últimos 40 anos.

Suas novas pinturas que seriam expostas são bem diferentes para quem estava acostumado com o estilo de Nara que o fizeram ficar famoso.

Obra Peace of Mind (Paz da Mente) de 2019/Créditos Yoshitomo Nara do site do LACMA. Obra lembra a pintura Miss Moonlight

O artista explicou para a curadora Mika Yoshitake. É como se os novos retratos estivessem envoltos por uma névoa para mostrar honestidade e hesitação por não sabermos o que acontecerá no futuro.

Miss Forest 2021
Nova escultura de bronze Miss Forest ao lado esquerdo

A nova escultura de bronze chamada Miss Forest representa a energia interna em um momento de introspecção e reflexão. Muito parecido com o que acontece com yoga e meditação.

Atualmente, ele mora no Japão em Tochigi e trabalha com sua arte em seu estúdio ouvindo música bem alta e testando novos materiais em esculturas.

Em entrevista de 2020 ao The New York Times contou que ainda trabalha sem assistente algum e faz todas as suas obras em seu ritmo.

Yoshitomo Nara é averso a redes sociais, pois as considera uma distração que atrapalharia sua arte.

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