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Pesquisa revela impactos psicológicos e sociais da pobreza menstrual no Japão

Pesquisa realizada pelo Ministério da Saúde, Trabalho e Bem-Estar com 3 mil mulheres trouxe dados oficiais sobre o problema que o país enfrenta. Confira

O Ministério da Saúde, Trabalho e Bem-Estar realizou a primeira pesquisa sobre a pobreza menstrual no Japão (agravada pelos efeitos da crise econômica desencadeada pela pandemia de SARS-CoV-2) e seus impactos psicológicos e sociais.

A questão dos produtos de higiene pessoal, especialmente para as mulheres, só ganhou espaço por causa de um aumento generalizado dos impostos sobre consumo em outubro de 2019 de 8% para 10%.

Preço de produtos de higiene pessoal, incluindo os voltado para a saúde íntima feminina sofreram aumento de impostos desde 2019 dificultando o acesso a muitas mulheres
Preço de produtos de higiene pessoal, incluindo os voltados para a saúde íntima feminina sofreram aumento de impostos desde 2019 dificultando o acesso a muitas mulheres

A pobreza menstrual no Japão é um dos muitos sintomas causados pela desigualdade de gênero no país que apresenta os piores indicadores entre as nações que compõem a OCDE (Organização Para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico).

A pesquisa online entrevistou 3 mil mulheres entre 18 e 49 anos em fevereiro. O relatório foi apresentado no dia 23 de março de 2022, quarta-feira, e trouxe uma primeira luz a um problema com efeito cascata que só aumenta.

Relatório da pesquisa do Ministério da Saúde, Trabalho e Bem-Estar

Após a exposição da pobreza menstrual com o aumento do imposto, em março de 2021 o governo central liberou uma verba de JP¥ 1,3 bilhões (US$ 10,6 milhões) aos municípios japoneses para atender a essa demanda do público feminino.

Contudo, 49,6% das mulheres entrevistadas pelo ministério afirmaram não conhecer as medidas de suporte criadas como a distribuição gratuita de absorventes pelos governos municipais.

Baseado no resultado da pesquisa, é possível presumir que cerca de 2,39 milhões de mulheres japonesas estejam em situação de pobreza menstrual
Baseado no resultado da pesquisa, é possível presumir que cerca de 2,39 milhões de mulheres japonesas estejam em situação de pobreza menstrual

Desde as restrições causadas pela pandemia de COVID-19, 8,1% das mulheres entrevistadas afirmaram que tiveram dificuldades para obter produtos de higiene pessoal ocasionalmente ou frequentemente.

Em perspectiva, se considerar essa percentagem como a população feminina em situação de pobreza menstrual, terá aproximadamente 2,39 milhões de mulheres japonesas entre 15 a 54 anos.

Faixas etárias mais afetadas e o custo médio em produtos de higiene pessoal

A pesquisa revelou que as mulheres com mais dificuldade ao acesso de produtos de higiene pessoal são as de até 19 anos e representam 12,9% dos casos pesquisados. Mulheres na faixa dos 20 anos são 12,7%, nos 30 anos representam 8,6% e as na casa dos 40 são 4,1%.

Em geral, essas são mulheres com renda familiar anual inferior aos JP¥ 3 milhões (US$ 24.512,85), a linha da pobreza japonesa. Com a privação, essas mulheres adotam estratégias de contenção, mas a um grande custo emocional e funcional.

Papel higiênico, algodão, meia, pedaços de roupas velhas, saco plástico e até jornal são utilizados como substitutos para absorventes
Papel higiênico, algodão, meia, pedaços de roupas velhas, saco plástico e até jornal são utilizados como substitutos para absorventes

Entre as mulheres que já passaram pela experiência de não ter dinheiro para comprar produtos de higiene pessoal, metade disseram que trocavam o absorvente com menor frequência, enquanto 43% disseram que utilizaram papel higiênico.

Além do impacto na vida social, afinal, 40,1% das entrevistadas foram forçadas a cancelarem compromissos, 35,7% sentiram o impacto diretamente na forma como cuidam dos filhos e das atividades diárias, esta pobreza é responsável por 70% dos problemas de saúde íntima.

Saúde mental e dificuldades financeiras

Sobre a saúde mental de mulheres que se encaixam na categoria de pobreza menstrual, a pesquisa indicou que 69,3% dessas mulheres sofreram com algum tipo de ansiedade, estresse, depressão, culpa, vergonha.

Em comparação com mulheres que não se encaixam na condição de pobreza menstrual, 31,1% das entrevistadas sofreram com os mesmos tipos de patologias psicológicas, mas por motivos outros.

Quase 70% das mulheres em situação de pobreza menstrual sentem a piora de qualidade de vida em seu cotidiano pela falta de acesso a um bem de consumo básico a toda mulher
Quase 70% das mulheres em situação de pobreza menstrual sentem a piora de qualidade de vida em seu cotidiano pela falta de acesso a um bem de consumo básico a toda mulher

Para 37,7% das mulheres sem acesso a higiene pessoal, a principal razão são os preços dos itens, outras 28,7% disseram que não tem dinheiro suficiente para gastar com bens de consumo pessoais.

O custo mensal em absorventes para uma mulher é estimado em JP¥ 1.000,00 (US$ 8,17), contudo, cada mulher tem seus próprios ciclos, fluxo menstrual, algumas precisam de remédios para lidar com as cólicas e a tensões pré e/ou pós menstruais.

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Outros dados

Portanto, o custo de JP¥ 1.000,00 é o cenário mais otimista. Uma pesquisa com 671 adolescentes revelou que 17,1% delas, 115 garotas, tiveram algum grau de dificuldade em ter acesso a produtos de higiene pessoal.

Destas, 37%, isto é, cerca 42, tiveram que fazer menos trocas de absorventes. Em alguns casos, algumas garotas relataram passar o dia inteiro utilizando apenas um absorvente ou utilizaram papel higiênico para substituir desse bem de consumo essencial para mulheres.

Em 2019 foi lançado o Little Miss Period (Seiri-chan), uma comédia romântica inspirada no mangá Little Miss P, de Key Koyama, que trata sobre as questões femininas de forma descontraída para quebrar o gelo e o tabu na sociedade. Confira o trailer:

Fontes: Ministério da Saúde, Trabalho e Bem-Estar, Index Global, Japan Today, Mainichi Shimbun

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