Hotel Gankatsu no Japão
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Hotel Gankutsu: a caverna artificial construída por um homem só

O hotel Gankutsu foi construído por Minekishi Takahashi usando ferramentas básicas por mais de 20 anos. Saiba mais.

O Hotel Gankutsu é um local que traz curiosidades em relação a sua construção e fatos que impressionam.

Foi escavada de forma metódica e contínua 30 centímetros por dia durante anos até se tornar um símbolo e alvo de interesse em pessoas na região de Yoshimi, conhecida como a Capadócia do Japão.

Muitos mitos e lendas urbanas rodeiam os motivos que levaram ao fazendeiro de morangos chamado Minekishi Takahashi (1904-1925) a começar a cavar seu projeto arquitetônico meticulosamente pensado.

Existem muitas teorias não confirmadas, já que o próprio não teve a chance de responder pessoalmente aos muitos questionamentos, que passaram a existir apenas depois. O que restam são informações trazidas pelos familiares de Takahashi, como alguns documentos e anotações deixadas.

O resto envolvendo lendas e assombrações mais parece algo para deleitar os haikyo, os caçadores de ruínas no Japão. Continue lendo e entenda.

Cidade de Yoshimi em Saitama (Capadócia do Japão)

A cidade de Yoshimi em Saitama no Japão é conhecida como Capadócia do Japão.

No local, existe uma série de cavernas conhecidas popularmente de Cem cavernas de Yoshimi Hyakketsu ou Hyakuana – datadas do século 6 BCE.

Cem cavernas de Yoshimi é um sítio arqueológico que faz parte de lendas Ainu

Ao oeste de Higashimatsuyama, 219 tumbas que foram cavadas sob a rocha vulcânica, foram descobertas pelo meio acadêmico em 1887 pelo professor arqueólogo Shogoro Tsuboi (pai da arqueologia e antropologia japonesa).

No entanto, a população local sempre soube da existência das cavernas antigas. Posteriormente foi descoberto na década de 20, que serviam de tumba para nobres do período Kofun (250 A.D a 538 A.D).

São câmaras individuais não interconectadas e era destino dos restos mortais apenas de pessoas importantes, como chefe de clãs e nobres.

Rocha vulcânica de Yoshimi

A pedra da caverna é um tipo poroso de rocha vulcânica comprimida, que é mais fácil de cavar por ser macia, sem perder suas características firmes.

Minekichi Takahashi e a cidade de Yoshimi

Minekishi Takahashi em retrato que decora restaurante de sua família
Minekichi Takahashi em retrato pendurado no estabelecimento comercial de sua família em Yoshimi

Minekichi Takahashi era fazendeiro de morangos. Viveu na cidade de Yoshimi bem perto das cem cavernas de Yoshimi. Teve uma educação simples e básica na escola de terakoya onde aprendeu a ler a escrever.

No entanto, era autodidata em arquitetura, filosofia e mineralogia. Quando tinha 49 anos começou a cavar em sua propriedade localizada perto da caverna.

Hotel Gankutsu

Fachada do hotel gankutsu em seu período auge em que era aberto a visitação do público
Hotel Gankutsu em seu auge quando era aberto a visitação do público

Usando apenas cinzel e ferramentas básicas começou a cavar seu projeto em 1904 batizado de Koushokan, mas conhecido atualmente como hotel gankutsu.

Picareta com cinzel

Suas atividades eram conhecidas pelos moradores da região e trabalhou por mais de 20 anos cavando centímetro por centímetro até falecer aos 67 anos.

Fatos impressionantes do projeto

Planta original do hotel gankutsu

O que mais impressiona é o projeto arquitetônico com suas dimensões perfeitas em Golden Ratio, de simetria e design ocidental. Naquela época, as coisas do ocidente eram vistas como modernas e futuristas.

O que Minekishi Takahashi contruiu

Fachada do hotel gankutsu em seu auge antes dos tufões

Ele conseguiu construir usando ferramentas básicas e seguindo seu projeto uma área central que é o hall, duas escadas, salas, varanda e passagens.

Mapa do interior do hotel gank
Mapa do interior da caverna artificial conhecida como Hotel Gankutsu do livro de fotografias do local do fotógrado Hidenori Arai

30 centímetros de pedra todos os dias

Cavou 30 centímetros de pedra todos os dias e no começo trabalhava em um espaço de 1.8 metros quadrados.

O objetivo era chegar a uma construção de 54.6 metros, que levaria três gerações trabalhando por 150 anos, segundo estimativas de suas anotações em posse de sua família. O projeto mostrava uma construção simétrica com três andares.

Problemas enfrentados que mudaram seu design

Takahashi planejou um projeto perfeito, mas encontrou problemas na construção.

Descobriu infiltração de água vindo do subterrâneo em algumas áreas, que o impediram de prosseguir, além de ter encontrado elementos mais duros que estavam em meio a rocha vulcânica, que o cinzel não conseguia penetrar.

Ao todo a fachada ficou com 36.4 metros e dividido em dois andares.

Hall de entrada

Hall de entrada do hotel gank

A primeira parte a ser construída foi o hall que tem o melhor acabamento e foi meticulosamente feita.

Design e assimetria são de qualidade alta. O local tem 9 metros de profundidade e largura de 3.6 metros, tinha detalhes decorativos esculpidos.

Detalhes da escadaria do hotel

O teto é levemente curvado e o resto do cômodo foi dividido em 1 shaku, conforme regras da arquitetura japonesa. A escada central não foi finalizada e acaba em lugar algum.

Parte da sala de entrda

Laboratório de ciência ou cozinha

Detalhes de sala do hotel gankutsu mostra moveis esculpidos

O laboratório de ciência fica ao lado esquerdo do corredor a partir do hall. Tem mesas escavadas, áreas para telefone, prateleiras, vasos que indicam seus usos funcionais de uma espécie de laboratório químico com aparência futurista.

Tudo foi esculpido e seu design mostra a superfície predominando a estética sem nenhum material adicional externo.

Área da caverna artificial hotel gankutsu

Da sala do laboratório ao lado do hall, se tem acesso a um corredor e uma escada simples para o segundo andar onde está a varanda. Ao todo primeiro e segundo andar tem 100 metros.

A segunda escada foi finalizada pelo filho de Takahashi, que antes se limitava a um buraco em que uma pessoa se rastejava.

Varanda

Fachada do hotel gankutsu em seu auge

A varanda tinha detalhes e decorações e mostrava uma vista diferenciada da região das redes de cavernas.

O filho adotivo Taiji continuou parte do trabalho após seu falecimento em 1925 até morrer em 1965. A maior parte de seus esforços foram concentrados em conservar o que seu pai construiu. Inclusive, abriu o local para turismo até o começo da II guerra mundial.

Nesta época, o local de cavernas de Yoshimi foi usada por uma fabricante de aviões japonesas que ampliou salões para armazenar partes e munições protegidos dos ataques aéreos dos Estados Unidos com uso estendido ao hotel Gankutsu.

Deterioração por tufões

  • Fachada do hotel gankatsu perdeu seus detalhes e fachada ruiu
  • Hotel gankutsu atualmente tem risco de desmoronar e por isso está fechado

O projeto arquitetônico de Gankutsu foi danificado severamente por dois tufões, de 82 e 87. Por conta disso, a rocha da fachada em que era possível ver a varanda foi esfarelando e está sumindo atualmente. É um dos motivos para ele ter sido fechado para visitação.

Foto antiga mostra frente do hotel gankutsu

Em sua época áurea a fachada de 23.7 metros tinha detalhes com pastilhas brancas e decorações em preto e cinza com pilares desenhados misturando estilo ocidental com oriental. A frente era decorada com plantas e fazia uma bela estética atrativa.

Motivos da construção do hotel Gankutsu

Inicialmente, o Gankutsu não foi projetado para ser um hotel. Mas, o pouco que se sabe sobre a construção e os motivos de Minekishi está com a família dele, que possui uma pequena loja comercial perto da construção, do outro lado da rua.

Fachada do estabelecimento comercial da família da Minekichi Takahashi

A Gankutsu Shop é uma loja de macarrão japonês e casa de chá da família de Takahashi onde eles deixam exposto o desenho do projeto arquitetônico original, além de ter alguns documentos e anotações de Minekishi sobre a construção. Lá, as ferramentas usadas ficam expostas, além de fotos e placas.

Restaurante da família de Minekishi Takahashi deixa exposto ferramentas, placas usadas na época que era uma atração, entre outros documentos históricos

Hoje em dia, pouco resta do que foi sua construção cheia de detalhes e formas. As entradas foram tampadas com grades de ferro, impedindo a visitação por questão de segurança, já que a rocha do local esfarela e há risco de desabamento.

Shizuka de 76 anos, esposa de Yoshinori de 78 anos da terceira geração da família Takahashi e que é dono do hotel Gankutsu, contou para a reportagem do jornal japonês Sankei em 2022, que Mineyoshi olhou para as tumbas da caverna de Yoshimori e pensou se poderia fazer o mesmo.

Afinal de contas sem nenhum objetivo funcional, apenas para atender sua criatividade artística, além de construir um modelo perfeito e racional de arquitetura para as gerações futuras. Uma gigante obra de arte que foi construída por meio de um sentimento de paixão e dedicação.

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