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Japão poderá ter energia renovável a partir de fusão nuclear em 2040

Visando a vanguarda da nova economia verde, o Japão buscará atingir a neutralidade de carbono investindo na promissora energia de fusão nuclear. Confira.

Há uma corrida no mundo para a mudança para a economia verde, países estão remoldando suas políticas energéticas para se adequarem as novas práticas ambientais. A aposta do Japão é conseguir fornecer energia de fusão nuclear a partir da década de 40 do século XXI.

O uso da fusão nuclear para a geração de energia limpa é, inevitavelmente, a nova geração de usinas nucleares aos seletos países detentores dessa poderosa ferramenta tecnológica.

JT-60SA, reator nuclear experimental desenvolvido pelo Japão e a União Europeia na cidade de Naka, prefeitura de Ibaraki
JT-60SA, reator nuclear experimental desenvolvido pelo Japão e a União Europeia na cidade de Naka, prefeitura de Ibaraki

Contudo, o governo enfrentará uma forte oposição na sociedade japonesa para a construção de novas usinas nucleares dado o desastre atômico em Fukushima Daiichi após os tsunamis causados pelo terremoto de MW 9.1.

Mas, por causa da emergência climática, as conversações entre nações sobre energia a partir de fusões nucleares foram o tema central dos encontros de discussão da UNFCC (Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima).

As diferenças entre fusão e fissão

As usinas nucleares existentes trabalham com a geração de energia a partir de fissão nuclear, isto é, a quebra do núcleo de um átomo instável e pesado em dois núcleos mais estáveis e leves que o original bombardeado por nêutrons.

Após o núcleo do combustível nuclear (normalmente urânio) ser bombardeado por um nêutron, ele se divide em  dois núcleos menores gerando uma reação em cadeia que precisa ser controlada para não acontecer acidentes
Na fissão, após o núcleo do combustível nuclear (urânio) ser bombardeado por um nêutron, ele se divide em dois núcleos menores gerando uma reação em cadeia que precisa ser controlada para não acontecer acidentes

Já a fusão nuclear, processo que acontece dentro no Sol, é justamente o processo inverso: ocorre quando dois núcleos se juntam para formar uma unidade maior e mais pesada que seus estados anteriores.

Estimativas da IAEA (Agência Internacional de Energia Atômica) apontam que a fusão nuclear pode gerar terajoules de energia, quantidade suficiente para suprir 60 anos na vida de uma pessoa em um país desenvolvido com poucas gramas de deutério e trítio.

Na fusão, dois núcleos se agrupam para formar um maior, após esse maior se estabilizar, cria uma particular menor que irá se agrupar com outra partícula até formar um núcleo, que se agrupará com outro núcleo para formar um maior, e assim sucessivamente até esgotar o combustível
Na fusão, dois núcleos se agrupam para formar um maior, após esse maior se estabilizar, cria uma particular menor que irá se agrupar com outra partícula até formar um núcleo, que se agrupará com outro núcleo para formar um maior, e assim sucessivamente até esgotar o combustível

E para além da geração de energia limpa, esses dois elementos químicos necessários para abastecer um reator de fusão nuclear tem um custo baixíssimo e podem ser encontrados em qualquer lugar.

Além disso, o processo em que os deutério e trítios são submetidos não gera altas concentrações de radiação (Röntgen) nem lixo nuclear.

Mais seguras que energia por fissão nuclear

Energia nuclear é um tema polêmico que divide opiniões. A desconfiança coletiva – e razoável – em relação a geração desse tipo de energia se dá pelos desastres de Chernobyl em 26 de abril de 1986 e de Fukushima Daiichi em 11 de março de 2011.

Acidentes nucleares de Chernobyl (esquerda) e Fukushima (direita)
Acidentes nucleares de Chernobyl (esquerda) e Fukushima (direita)

Contudo, especialistas afirmam que a fusão nuclear é um processo completamente seguro. A fissão nuclear precisa ser controlada para que as reações em cadeia não causem um acidente, a fusão nuclear é interrompida caso o combustível acabe ou aconteça uma falha.

Mesmo com o diagnóstico de especialistas, será um caminho difícil para o Japão conseguir convencer a sociedade a aceitar que o país continue explorando a tecnologia nuclear depois de 2011.

Revolução tecnológica

Apesar de todo o ceticismo e temor da sociedade relação a energia nuclear, ela já é uma realidade sendo desenvolvida em conjunto no projeto conhecido como ITER (International Thermonuclear Experimental Reactor).

São 35 países membros do consórcio do projeto que está sendo desenvolvido na França e conta com a presença de Japão, Coreia do Sul, China, Rússia, União Europeia e EUA. O Brasil ficou de fora da inciativa.

Design de reator de fusão nuclear ITER, uma aposta da comunidade internacional para tentar refrear, mitigar e, quando possível, impedir o agravamento da emergência climática
Design de reator de fusão nuclear ITER, uma aposta da comunidade internacional para tentar refrear, mitigar e, quando possível, impedir o agravamento da emergência climática

No Japão, o JT-60SA, projeto de reator nuclear celebrado entre Japão e UE está em fase de experiência. Há um intercâmbio entre os dois projetos, o JT-60SA irá auxiliar o ITER desde novembro de 2020.

Não há outro caminho tão promissor que possa auxiliar a humanidade nesse momento de emergência climática dada as dificuldades inerentes a geração de energia eólica e solar, e usinas nucleares tradicionais geram um lixo radioativo intratável.

Japão na vanguarda

Satoshi Konishi professor do Instituto de Energia Avançada da Kyoto University é categórico ao afirmar que já existe uma corrida e que o Japão não ficar de fora. “Mudanças de fontes de energia primária geralmente chegam muito tempo depois da inovação tecnológica”.

A fala do professor remete ao recorte histórico da era do petróleo, a capacidade para realmente perfura-lo e processa-lo chegou muitas décadas depois de seu descobrimento, com a fusão nuclear será parecido.

Divisão tecnológica entre Japão e União Europeia no desenvolvimento do JT-60SA
Divisão tecnológica entre Japão e União Europeia no desenvolvimento do JT-60SA

“Já estamos travando uma batalha crucial para ganhar fortalezas na linha de frente da tecnologia de energia de fusão”, informou o professor prevendo que o uso comercial no país deverá acontecer entre 2040 e 2050.

Já há iniciativas no Japão para financiar startups de energia com o suporte do estado e da academia já prevendo a necessidade do mercado global pelos equipamentos dessa tecnologia, um gigantesco mercado governamental de infraestrutura.

Por isso, o projeto JT-60SA é muito importante para demonstrar a capacidade do Japão em criar e desenvolver reatores até chegar ao ponto de produzir em escala comercial.

Advertências

Apesar de todas as possíveis virtudes e eventuais seguranças que a energia de fusão pode proporcionar, o professor associado do Instituto Nacional de Tecnologia da Kushiro College, Makoto Nakamura lembra que não existe nada 100% seguro.

O professor Nakamura também lembra do trauma dos japoneses em relação a questões nucelares (Hiroshima, Nagasaki e Fukushima), e apesar de mais segura, o trítio é um elemento potencialmente perigoso.

Também disse em entrevista só será possível levar a sociedade para esse caminho se acabarem os mitos de segurança infalível e dizer os reais riscos e benefícios para a sociedade, ser transparente e abrir o debate público.

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