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Pesquisas apontam que os tradicionais Bonenkais e happy hours são rejeitados por mais de 60% dos profissionais japoneses

Trabalhadores e trabalhadoras do Japão estão cada vez menos dispostos a participar de eventos pós-trabalho com bebidas alcoólicas. Saiba mais

Pesquisas recentes realizadas pelo jornal The Asahi Shimbun e pela Nippon Life Insurance Co. revelou que mais de 60% trabalhadores e trabalhadoras do Japão rejeitam tanto os happy hours, quando as tradicionais festas de fim de ano das empresas, o Bonenkai.

As razões por trás da rejeição aos eventos com álcool após o horário de trabalho com os colegas de trabalho são por causa da pandemia e por muitos considerarem essas atividades como uma extensão do trabalho.

Happy hours podem ir até muito tarde, com isso, se embriagar, dormir poucas horas e ter que estar no trabalho no dia seguinte como se nada tivesse acontecido pode ser extremamente exaustivo, especialmente quando há poucas possibilidades de dizer não
Happy hours podem ir até muito tarde, com isso, se embriagar, dormir poucas horas e ter que estar no trabalho no dia seguinte como se nada tivesse acontecido pode ser extremamente exaustivo, especialmente quando há poucas possibilidades de dizer não

Além disso, há quem não aprecie bebidas alcoólicas, mas ainda assim se veem coagidos a participarem por seus superiores e, porque não dizer, a tradição que pode ser encontrada nos diários da família Imperial durante o período Muromachi (1336 – 1573).

Mas, os motivos para o nível recorde de rejeição não são tão simples e envolvem diversos campos da vida, desde a personalidade de cada pessoa, relações com os colegas de trabalho e até a forma como cada um gostaria de utilizar o seu tempo livre.

Pesquisa Nippon Life Insurence Co.

Realizada virtualmente pela Nippon Life Insurece Co. em outubro de 2021, a pesquisa recebeu 7.774 respostas sobre o que os trabalhadores e trabalhadoras japonesas pensam sobre os eventos alcoólicos pós trabalho.

Para 36,9%, esses eventos são totalmente desnecessários e 25% dos entrevistados responderam que o happy hour é um pouco desnecessário, ou seja, 61,9% das respostas não são favoráveis.

Apesar da pandemia de COVID-19 ser uma das responsáveis por uma rejeição maior aos eventos com álcool entre colegas de trabalho, muitas pessoas simplesmente não gostam de serem obrigadas a participarem
Apesar da pandemia de COVID-19 ser uma das responsáveis por uma rejeição maior aos eventos com álcool entre colegas de trabalho, muitas pessoas simplesmente não gostam de serem obrigadas a participarem

Apenas 11,1% dos participantes afirmaram que os eventos de happy hour são necessários, enquanto 27,1% acreditam que a pratica é necessária de certa forma.

Os 38,2% favoráveis acreditam que beber com colegas os torna mais próximos e ajuda a entender os verdadeiros sentimentos (57,6%), permite ter mais informações gerais (38,5%) e ajuda a reduzir o estresse do trabalho (33,6%).

A pesquisa [e feita desde 2017 e atingiu seu recorde de rejeição em 2021 com um aumento de 16,2% em relação a 2020. Para Tomoki Inoue, pesquisador sênior da NIL Research Institude, o fenômeno pode ser explicado pela pandemia de COVID-19.

Bonenkai em declínio

Uma pesquisa também de outubro realizada pelo The Asahi Shimbun para seus leitores buscou descobrir como estavam os ânimos para as festas de fim de ano das empresas, o famoso e tradicional Bonenkai.

Embora alguns leitores estivessem ansiosos para ter algum evento e contato humano, descobriu-se que muitas pessoas não tem a menor intenção ou vontade de participar do Bonenkai em 2021 ou em qualquer outro momento.

Embora muitos trabalhadores e trabalhadoras esperem ansiosamente pelo Bonenkai de suas empresas, mais da metade adoraria que eles nunca mais acontecessem
Embora muitos trabalhadores e trabalhadoras esperem ansiosamente pelo Bonenkai de suas empresas, mais da metade adoraria que eles nunca mais acontecessem

“Não quero que minha empresa realize o Bonenkai esse ano. Elas costumavam ser as tradicionais festas da Era Showa (1926 – 1989) e nunca nos permitiram deixar de ir”, afirmou uma mulher na casa dos 50 anos que trabalha em uma rede de hotéis.

Ela afirmou que, mesmo quando os funcionários alegavam que estavam sem dinheiro, a empresa oferecia descontos para que todos participassem. Assim como ela, muitos afirmaram que não gostam de participar do Bonenkai, mas dizer não pode soar rude aos colegas.

Expectativas dentro e fora do trabalho

Relatos sobre como as festas de fim de ano se tornam um tormento na vida dos trabalhadores também foram relatados pela mulher citada acima e por outros leitores que escreveram para o The Asashi Shimbun respondendo a pesquisa.

Ela recorda que antes da pandemia de COVID-19, ela e cerca de 30 colegas foram obrigados a participar do Bonenkai, o que significou, além de consumir álcool, que todos cantassem no karaokê e dançassem também.

Muitas pessoas não se sentem a vontade para cantar ou dançar na frente de outras pessoas, especialmente em frente a aqueles cuja a afinidade é baixa
Muitas pessoas não se sentem a vontade para cantar ou dançar na frente de outras pessoas, especialmente em frente a aqueles cuja a afinidade é baixa

Mas nem todos são contra as festas de fim de ano. Um professor do ensino médio de 26 anos escreveu que anda ocupado demais com seu trabalho, e apesar de ter pequenas conversas na sala dos professores, não tem tempo real de conversar verdadeiramente com seus colegas.

Ele contou que em uma das raras conversas mais profundas com seus colegas, existia uma questão conflituosa entre passar mais tempo com seus pares, dedicar esse tempo cuidando de seus familiares ou demonstrando auto controle aos alunos.

Empresas também não pretendem realizar o Bonenkai

Outra pesquisa realizada em outubro pela Tokyo Shoko Research Ltd., consultou as empresas sobre a realização das festas de fim de ano e recebeu 8.174 respostas. Em 2021, 70,47% delas não irão realizar nenhum evento.

Essas empresas também afirmaram que não irão realizar independente de um eventual novo estado de emergência da pandemia de COVID-19. Em dezembro de 2020 o número de empresas que cancelaram suas celebrações foi de 94,2%.

Há também consequências econômicas relacionadas a não realização do Bonenkai para o setor de bares e restaurantes, bem como toda sua cadeia produtiva
Há também consequências econômicas relacionadas a não realização do Bonenkai para o setor de bares e restaurantes, bem como toda sua cadeia produtiva

Em relação ao poder público, algumas prefeituras e governos municipais recomendaram que as festas de fim de ano sejam suspensas, no entanto, algumas outras como a prefeitura de Yamagata enviou convites para seus funcionários participarem do Bonenkai.

Na cidade de Mitsuke, prefeitura de Niigata, o município irá subsidiar as despesas dos eventos caso haja ao menos 10 pessoas participando. Apesar da negativa, especialistas apontam a importância de socializar fora do ambiente de trabalho.

“Pessoas que desabafam ou cultivam relacionamentos amigáveis ​​com outras pessoas nas festas de fim de ano não podem romper com a tradição (Bonenkai), mesmo que pensem que ela é ultrapassada. Contudo, quem não tem boas lembranças das festas de fim de ano não conseguem compreender o motivo de as pessoas as quererem presentes. Então, entre os dois lados há uma lacuna difícil de ser explicada” – Takayuki Harada, professor de sociopsicologia da Universidade de Tsukuba.

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