Desde a abdicação do Imperador emérito Akihito, a sociedade japonesa passou a debater e considerar a possibilidade de o país aceitar a ideia de uma mulher possa assumir como Imperatriz e assumir a linha de sucessão da Família Imperial do Japão.
Esse debate é de extrema importância para o Japão, pois o casal Imperial Naruhito e Masako tem apenas uma filha, a Princesa Aiko (Toshi).

Além disso, essa discussão não está ligada apenas a mudança na estrutura patriarcal, mas a uma questão prática.
Afinal, existem poucos homens na linha de sucessão do Imperador Naruhito: o irmão e Príncipe herdeiro Fumihito de 55 anos, o irmão mais novo do Imperador emérito Akihito, Masahito Hitachi de 85 anos e o pequeno Príncipe Hisahito de 14 anos.
Apesar da maioria da sociedade japonesa se mostrar favorável em ver uma mulher ocupando a posição máxima do Trono Crisântemo, especialistas acreditam que essa proposta não será aprovada durante a gestão do Primeiro-Ministro Yoshihide Suga.
Opiniões de acadêmicos sobre sucessão Imperial
Três respeitados acadêmicos, Takashi Mikuriya, professor emérito de ciências políticas da Tokyo University, Hidehiko Kasahara, professor de história política do Japão pela Keio University e Akira Momochi, professor de política pela Kokushikan University opinaram sobre a possibilidade da gestão Suga criar uma lei de sucessão por uma mulher no Trono Crisântemo. Confira.
Takashi Mikuriya
Para o professor emérito de ciências políticas da Tokyo Univesity, o Primeiro-Ministro Yoshihide Suga não possui força política para colocar um projeto dessa natureza em votação na Dieta.
Mikuriya acredita que, caso Yoshihide coloque o assunto em votação em 2021, deverá fazer até outubro de 2021.

Isso porque em outubro, o mandato dos atuais membros da Câmara dos Representantes acaba.
Precisa de base política forte e coesa
O professor acredita que o melhor caminho para uma lei de sucessão deverá acontecer quando o governo tiver uma base política mais forte e coesa para debater sobriamente o assunto.
Em sua avaliação, os políticos conservadores do Japão são bem mais numerosos do que os progressistas.
Em um assunto tão delicado, como o símbolo máximo da unidade nacional, será necessário muita pesquisa, estudo, e, especialmente, a arte política do convencimento.
Hidehiko Kasahara
Entre os três especialistas, Kasahara é de longe o mais severo crítico do Primeiro-Ministro, no entanto, suas críticas vão na direção do mais longínquo dos Primeiros-Ministros da história do Japão: Shinzo Abe.
O professor de história política do Japão da Keio University afirma que o atual impasse na sucessão Imperial é responsabilidade de Abe, afinal, sua gestão gozou de grande apoio e estabilidade política.

Já Yoshihide Suga tem que lidar com problemas colossais que seu predecessor não precisou, ao menos não na mesma intensidade: pandemia do novo coronavírus SARS-CoV-2, a realização das Olimpíadas de Tokyo e as disputas e deteriorações das relações diplomáticas com a China.
Debate após pandemia acabar
No entanto, Hidehiko acredita que Suga fará o debate sobre a sucessão do Trono Crisântemo e a possibilidade da ascensão de uma figura feminina como símbolo da unidade nacional assim que a questão da pandemia for resolvida no país.
Akira Momochi
O professor de política da Kokushikan University Akira Momochi tem uma visão mais conservadora sobre a questão.
Leis devem ser mantidas
Ele defende que as leis para a casa Imperial devem ser mantidas. Para o professor, há homens o suficiente na Família Imperial para garantir a sucessão.
Em suas palavras, Momochi disse que a monarquia mais antiga do mundo só continuou existindo graças aos esforços dos antecessores e que os ramos da família Imperial existem justamente para garantir a sucessão masculina do Trono Crisântemo.

Apesar de sua posição conservadora, Akira não descarta a possibilidade de uma possível mudança na lei de sucessão, porém, acredita que esse não é o momento para essa discussão no país.
Opinião pública
Em uma entrevista realizada pelo Kyodo News com aproximadamente 3 mil pessoas acima de 18 anos em todo o país, revelou que mais de 87% da população apoia a ideia de uma Imperatriz assumindo o Trono Crisântemo.

52% dos entrevistados são favoráveis a alteração da lei de sucessão. Já 35% disseram apoiar formalmente uma mulher para assumir o trono do Japão.
A pesquisa também demonstrou que 43% dos japoneses apoiam a linha de sucessão a partir da linhagem matriarcal e 37% também apoiam de alguma forma a sucessão a partir da linhagem matriarcal, 1% a mais em relação ao ano passado (2020).
Grupo de trabalho governamental para a alteração da lei
Seis membros do governo central formaram um grupo de trabalho no dia 23 de março de 2021, presidido por Atsushi Seike, ex-presidente da Keio University, para lidar com a sucessão do Trono Crisântemo.
De acordo com Seike, as conversas serão cuidadosas e não deverão ser realizadas com pressa, ainda que o assunto tenha certa urgência, pois há apenas três possíveis herdeiros ao trono de acordo com as leis atuais.

Além disso, as mulheres da família Imperial estão abrindo mão dos seus status de realeza para casarem-se com os afetos de sua escolha, ou seja, plebeus.
Considerando apenas a questão da idade do Imperador e dos possíveis herdeiros, a situação é crítica.
Entre as possibilidades para lidar com essa crise está a possibilidade da ascensão feminina.
Porém, não é a única possibilidade. Também está na mesa a pedido dos conservadores a ideia de suspender a lei de 1947 que limitam os ramos secundários da Família Imperial.
Imperatrizes da história do Japão

A Família Imperial do Japão tem cerca de 2.600 anos, ainda que os primeiros Imperadores sejam lendários. Entre os monarcas japoneses, apenas oito foram mulheres. Foram elas:
- Suiko Tennō: 33ª Imperatriz reinante do Japão entre 593 a 628;
- Kōgyoku Tennō: assumiu o trono como 35ª Imperatriz reinante após a morte do Imperador Jomei entre 642 a 625, abriu mão do trono em favor de seu irmão mais novo e assumiu novamente como 37ª Imperatriz (Imperatriz Saimei) reinante após a morte do mesmo e governou de 655 a 661;
- Jitō Tennō: 41ª Imperatriz governou de 686 a 697, abdicou em favor do neto Imperador Monmu;
- Genmei Tennō: 43ª Imperatriz governou o país de 707 a 715;
- Genshō Tennō: 44ª Imperatriz, filha da Imperatriz Genmei Tennō, assumiu após a morte da mãe, governou o Japão de 715 a 724 e abdicou em benefício do Imperador Shōmu, seu sobrinho;
- Kōken Tennō: 46ª Imperatriz governou o Japão entre 749 a 758 e reassumiu o trono como 48ª Imperatriz, conhecida como Shōtoku Tennō e governou 764 a 770;
- Meishō Tennō: reinou como 109ª monarca entre 1629 a 1643 sem poder político dado o governo desempenhado pelo shogunato do clã Tokugawa;
- Go-Sakuramachi Tennō: a 117ª Imperatriz foi a última monarca do Japão e reinou entre 1762 a 1771 sem poderes políticos e abdicou em favor de seu sobrinho.
Há também a lenda da grande e lendária líder política e militar conquistadora da Coreia, a Imperatriz Jingū-kōgō, uma figura central na história e no folclore do Japão. Supõe-se que ela tenha reinado entre os anos de 201 a 269 tendo falecido aos 100 anos.
Modernidade vs tradição
Enquanto o Japão se esforça para se modernizar em questões globais do século XXI, que vão desde a digitalização do país a equidade de gênero, ainda há uma força conservadora, principalmente no meio político, que prefere manter a tradição do país intocada.
Nesse sentido, para manter a figura masculina como monarca, chegou a ser solicitado em 2019 a possibilidade de adoção de homens solteiros pela Família Imperial, pedido que foi rejeitado pelo LDP (Liberal Democratic Party).

Ainda que a maioria da população seja favorável ao trono matriarcal, é improvável que a gestão de Yoshihide Suga permita que uma lei nesse sentido prospere.
Conservadores do governo alegam que a permissão de Imperatrizes possa destruir as tradições do Japão.
O presidente do grupo de trabalho do governo, Atsushi Seike, disse que “existem várias opiniões, mas pode-se pelo menos avaliar as vantagens e desvantagens de cada posição”.
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