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Pessoas em situação de rua de Tokyo disseram não ter para onde ir durante as Olimpíadas

Pessoas sem-teto de Tokyo estão sendo despejadas das ruas pelas autoridades metropolitanas em nome da realização dos Jogos Olímpicos

Pessoas em situação de rua, os homeless (termo usado no Japão sem tradução em japonês), de Tokyo foram notificados pelas autoridades metropolitanas para retirar seus pertences das ruas da capital, um despejo daqueles que não tem sequer endereço.

Pessoas em situação de rua em Tokyo dormem embaixo de banners dos Jogos Olímpico
Pessoas em situação de rua em Tokyo dormem embaixo de banners dos Jogos Olímpico

Os folhetos exigiam aos homeless que saíssem das vias públicas com seus pertences até o dia 21 de julho, quarta-feira. Chegou o momento da higienização da capital para a realização do evento em seu sentido sociológico, isto é:

“Limpeza social (ou higienização social) é um termo da sociologia que se refere a eliminação de elementos sociais tidos como indesejados, como criminosos, antimoralistas e pessoas sem-teto”

Tokyo não é a primeira e nem será a última cidade anfitriã dos Jogos Olímpicos que realiza esse tipo de política higienista. Para a realização dos Jogos do Rio de Janeiro em 2016 a política higienista não apenas desalojou e despejou, como também matou muitas pessoas no processo.

Sem-teto na maior cidade do mundo

Embora possa não parecer que não existam pessoas em situação de rua no Japão para estrangeiros, turistas e desavisados sobre os problemas e dramas sociais do país, eles estão lá, ainda que de forma discreta.

Com a crise gerada pela pandemia de COVID-19, a quantidade dessa população aumentou. No entanto, de acordo com a Tsukuroi Tokyo Fund, ONG de serviço social afirmou que as autoridades têm sido mais rígidas desde 2013 e piorou com a escolha da capital para sediar as Olimpíadas.

Durante a noite quando tudo fecha é que os homeless da maior cidade do mundo costumam ficar visíveis
Durante a noite quando tudo fecha é que os homeless da maior cidade do mundo costumam ficar visíveis

Segundo a ONG, em janeiro de 2019, 1.126 pessoas em situação de rua dormiam em parques, nas margens de rios ou nas marquises de prédios e estações de metrô, mas em janeiro deste ano o número caiu para 862. Não há notícias dos 264 que desapareceram.

Muitas dessas pessoas vivem embaixo de banners de promoção dos Jogos Olímpicos, mas são lançados a própria sorte, ao menos enquanto o evento durar. Durante a chegada da Tocha Olímpica não haverá moradores de rua no trajeto.

Cidadãos invisíveis e dispensáveis

Quando um idoso de 62 anos questionou um oficial do governo, que distribuía panfletos aos moradores de rua sobre o motivo dele ter de se mover de onde ele dorme, foi informado de que acontecerá um evento relacionado as Olimpíadas.

Este senhor chegou em Tokyo aos 10 anos de idade, estudou e trabalhou na cidade, mas depois de problemas pessoais, gastou suas economias e acabou indo viver nas ruas. Hoje depende de grupos de apoio para pessoas em situação de rua.

Há uma camada de pobreza muito grande no Japão, especialmente por causa dos efeitos da pandemia do COVID-19 na economia do país
Há uma camada de pobreza muito grande no Japão, especialmente por causa dos efeitos da pandemia do COVID-19 na economia do país

Em entrevista ao The Asahi Shimbun, o idoso conta que lembra como sentiu-se emocionado ao ver que Tokyo foi escolhida para sediar as Olimpíadas em 2016 no encerramento dos Jogos Rio 2016.

Hoje, a emoção da cidade ser a anfitriã não é mais um motivo de orgulho, mas representa uma crise existencial ao ser jogado a própria sorte. Aos entrevistadores indagou: “Para onde devo ir agora?”.

Soluções amargas

Ciente de que esse dia chegaria, um homem de 30 anos procurou ajuda do governo desde o começo do mês buscando um lugar para ficar. Ao ser atendido, recebeu a notícia de que poderia ficar em um hotel.

Porém, foi informado de que deveria sair de lá no dia 22 de julho. As autoridades alegaram que o hotel destinaria seus quartos aos hóspedes das Olimpíadas, mas com a decisão de não permitir espectadores, ele poderá ficar um pouco mais.

Para boa parte das pessoas em situação de rua, o auxílio de organizações é mais constante e humana do que o poder público oferece
Para boa parte das pessoas em situação de rua, o auxílio de organizações é mais constante e humana do que o poder público oferece

O homem que não quis se identificar afirmou que a situação o fez provar um sabor amargo: “Como estou desempregado, fico em uma situação vulnerável. Não pude nem reclamar quando ouvi que isso era para as Olimpíadas”.

Apesar da falta de sensibilidade das autoridades metropolitanas para lidar com os homeless, a solução (ainda que precária e humilhante) do homem de 30 anos não é regra para quem não tem onde morar.

Ademais, para os olhos atentos, há muitos homens, mulheres, muitos jovens e idosos de pernas cruzadas e perambulando sem destino, casas de papelão e lonas azuis improvisadas como casas para lembrar, que muitos foram deixados de fora da riqueza da maior cidade do mundo e sede dos Jogos Olímpicos de 2020-2021.

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